
Quem visitar Pequim, não pode deixar de ir espreitar uma peça de ópera chinesa.
Pode não perceber absolutamente nada, mas o espectáculo em si, prende os olhos do espectador às cenas, aos movimentos e às cores dos trajes e à estranha maquilhagem dos seus intervenientes.
A ópera chinesa é uma arte das mais antigas do mundo que abrange e une a literatura, a música, a dança, a pintura, a arte marcial e a acrobacia.
Durante o seu longo período de desenvolvimento, a ópera chinesa formou vários estilos e acumulou dezenas de milhares de peças. Obteve assim, os seus próprios meios de expressão artística, que consistem em quatro técnicas e cinco maneiras, que são relevantes: "cantar, falar (o texto), representar, lutar" e "as mãos, os olhos, o corpo, os passos e o jeito"; e foi assim que obteve a sua própria característica estética.
Os argumentos de uma ópera chinesa, unem elementos trágicos e cómicos, misturados com canto, dança, narrações poéticas e acrobacias. Trata-se de uma dramatização de feitos históricos e de lendas populares.
Outra forma de representação, é um diálogo com uma linguagem muito próxima da fala corrente e pantomimas, misturadas com gestos normais.
De humor amável que reflecte e satiriza a sociedade, tem a intenção de ir instruindo e entretendo a quem queira passar umas horas de laser.

Este foi um produto da fusão numa só companhia de um conjunto de tradições da ópera chinesa que actuavam em Pequim.
Existem também variedades regionais.
A ópera foi sempre um espectáculo muito popular tanto entre o povo chinês como entre os nobres e imperadores. Na elaboração dos argumentos e da música participaram escritores e aristocratas, únicos letrados dessa época.

Mas o que os faz credores de tal título são, acima de tudo, os seus profundos conhecimentos das técnicas musicais. O imperador Hsuan Tsung fundou a Academia do Jardim das Peras, uma companhia de música e dança estabelecida na corte. Com o tempo, denominou a ópera como o "ofício do jardim das pereiras" e, aos seus actores, designou-os como os estudantes do jardim das Peras.

Então eram os homens que faziam os papéis de mulheres.
Nessa época, houve muitas paixões de espectadores que se apaixonavam pelos personagens femininos, dando até, origem ao filme M. Butterfly, de obra de Puccini,(sob a Direção: David Cronenberg,1993,Inglaterra), baseado num caso verídico, onde conta a história de um diplomata francês, casado, que se apaixona por um actor da ópera de Pequim, sem saber que nela, as mulheres são representadas por homens.
Por interesses partidários e amorosos, o actor chinês leva adiante o jogo, e o diplomata, saído de um casamento no qual, a sua relação, embora afectiva, era desinteressante, nada desconfia e esta relação dura cerca de 14 anos.
Já em França, o jogo inteiro desvenda-se num Tribunal, pois ela/ele revela-se afinal um agente duplo que foi conseguindo segredos do Estado de França.
Como resultado desta paixão enganadora e em desespero, preso como colaborador de alta traição, o ex-diplomata encena na prisão a pungente cena do suicídio de Madame Butterfly, na ópera de Puccini, papel que a outra-outro representava.
Só que esta encenação afinal era real, porque, vestido de mulher, grotescamente, ele suicida-se (corta a garganta com o espelho com que se maquilhou) perante todos os outros presos espectadores.

Depois, um último ensaio. Vários actores, já vestidos a rigor e maquilhados, seguem atentos as instruções do ensaiador entre lanças e espadas. Dão-se os último retoques.
E o pano sobe...