quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Novo Ano 2011

Um Novo ano aí chega e com ele novas oportunidades de retomarmos antigos sonhos, projectos não concretizados, amigos há muito não vistos, procura de antigos locais que nos marcaram, ou novos, por onde desejaríamos deambular e que nos aguardam.

Todos os Anos temos uma segunda oportunidade: de sermos melhores, de reatarmos laços, de compormos estragos, de pedir desculpa por uma qualquer falha nossa, ou somente de dizermos a alguém o quanto a amamos, o quanto nos faz/fez feliz, quantas saudades hospedadas nos nossos peitos, recortes de lembranças retidos na memória do coração...

Seremos capazes de agarrar todas essas oportunidades em 2011?

Respeitaremos quem somos ao ponto de permitirmos o nosso Ser vivenciar tudo a que se tem direito?

Valerá a pena correr por um sonho, ou desperdiçarmos mais um Ano Novo das nossas vidas e continuarmos acomodados aos velhos hábitos?

Será desta que acreditamos que é possível sermos o Ser, que viemos para ser?
A única alegria neste mundo é a de começar. É belo viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante.
A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas.
A vida é o que eu estou a cada instante a ver e a viver: uma manhã majestosa e nua sobre os montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.
Viver ao sol, gratuitamente, como um lagarto. Tudo na vida pode ser uma maravilha porque tudo nela tem uma justificação.
É, da mais rasteira erva ao mais nojento bicho, não haver presença no mundo que não seja necessária e insubstituível. Que, do contrário, era faltar na terra esta admirável plurivalência, que faz de uma tarde de sol, de trigo e de cigarras o mais assombroso espectáculo que se pode ver. O medir depois a distância que vai da formiga ao leão, da urtiga ao castanheiro, de Nero a S. Francisco de Assis, é uma casuística que não tem nada que ver com a torrente de seiva que inunda o mundo de pólo a pólo.

O amor e a amizade são os sentimentos que mais contribuem para dar sentido e cor às nossas vidas

Respostas que encontraremos, com certeza, no nosso interior se nos propusermos a escutá-lo.
A todos, desejo um Feliz 2011!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pequim e os Hutongs (Bairros antigos)


Para quem visita a cidade de Pequim, atracções como a Cidade Proibida, a Grande Muralha, o Templo do Céu, o Palácio de Verão, etc, são indispensáveis, pois a sua glória e grandiosidade reflectem parte da cultura milenar chinesa. No entanto, há um outro lugar nesta Capital que não se deve perder: são os Hutongs, ou os becos tradicionais chineses, espalhados por alguns bairros mais antigos de Pequim.
Fomos visitar um hutong que se situa no bairro de Qianmen, ao sul da Praça da Paz Celestial, no centro de Pequim.Os principais prédios num hutong eram quase todos quadrangulares formando um complexo pela construção de quatro casas ao redor de um pátio.
Os pátios variavam de tamanho e design de acordo com o estatuto social dos moradores. Se fosse designado para um alto funcionário ou para ricos comerciantes, eram especialmente construídos com vigas no telhado e pilares lindamente esculpidos e pintados, cada um tinha um jardim ou quintal. As pessoas mais comuns, viviam simplesmente nos pátios construídos de casas baixas.
No século XIII, os mongóis fundaram a Dinastia Yuan e escolheram Pequim como Capital. De origem mongol, palavra "Hutong", que designa um conjunto de becos e ruas, foi trazido assim ao quotidiano dos Hans.
A zona de Qianmen concentrava o maior número de visitantes na antiga capital chinesa, o que tornou o lugar cheio de lojas, restaurantes e estabelecimentos de entretenimento. Com a chegada constante de moradores, os becos no bairro começaram a ficar cada vez mais estreitos. Em 2003, o governo municipal aprovou o "Projecto para Restauração do Bairro de Qianmen", que foi remodelado conforme o aspecto que tinha nos anos 30 do século passado. Estreitos e longos, os Hutongs de Pequim, têm nos seus dois lados, casas de paredes e telhados de cor cinzenta, com portas de madeira, na sua maioria, pintadas de vermelho (cor da sorte, segunda a tradição chinesa).A maior parte dos Hutongs foram construídos no século XIII. Hoje, devido à remodelação constante da cidade, é difícil saber um número exacto, mas os que existem, atraem muitos turistas que, curiosos, observam o quotidiano de algumas famílias, na sua maioria, são os idosos que vão mantendo os seus passatempos, como cultivar nos seus pátios flores de diversas espécies, ouvir ópera chinesa, jogar xadrez com os vizinhos e, até a criação de pombos -, o que atrai muita atenção dos visitantes estrangeiros.
Eles alimentam os pombos, passeiam com as gaiolas dos seus pássaros, cuidam das plantas e levam os seus netos à escola. São cenas do quotidiano muito bonitas e cada vez mais raras, que mostram como viver naquela zona antiga, não esmorece terem atitudes positivas perante a vida.Ao passear nas ruas estreitas dos Hutongs, seria fácil mergulharmos na serenidade e na calma, fugindo do trânsito caótico e da modernidade. As avezinhas a cantar nas gaiolas penduradas sob os beirais dos telhados e as bicicletas que vão passando de vez em quando, tudo revela uma tradição bem preservada.
Actualmente, com o crescimento significativo de visitantes, o turismo de Hutong já se tornou uma nova atracção turística em Pequim.Muitos turistas, escolhem alugar um dos triciclos turísticos que abundam na zona, para percorrer melhor este lugar bastante típico do hutong, sob as explicações dos condutores, dado que a maioria nasceu e mora no bairro.
Uma curiosidade: é que cada hutong possui o seu próprio nome, que geralmente conta uma história interessante. A rua onde andámos chama-se na sua tradução "Rua Inclinada do Cachimbo". Um nome bastante estranho, que resulta de uma história de rua, porque antigamente nesta zona, concentravam-se muitas lojas onde se vendiam os cachimbos e os respectivos tabacos. As lojas, em geral, tinham um letreiro na porta para chamar atenção dos passantes. Na actualidade, esta rua já não se limita apenas a vender os tabacos, pois pode encontrar-se muitos artigos tipicamente chineses e… bastante caros, uma vez que as lojas foram remodeladas e os seus donos são artistas que assinam as suas obras de arte, já com nome feito no mercado, que são de artesanato, pintura e moda.Ao sair da “Rua Inclinada do Cachimbo”, aparece à nossa frente uma imponente construção - a famosa "Torre dos Tambores de Pequim", que se situa no eixo central desta antiga cidade e a norte, fica a Torre de Sinos. Estas duas torres serviam antigamente para dar as horas. Há um termo chinês que diz: sinos de manhã e tambores à noite, ou seja, de manhã replicavam os sinos e à noite batiam-se os tambores.A Torre de Tambores foi construída em 1271 e tem o nome original de Torre de Qizheng, que significa a “administração unificada”. A construção que se observa hoje, foi reconstruída em 1420, pois já foi destruída por vários incêndios. A torre regista uma altura de 46,7 metros e tem toda a estrutura de madeira, onde havia originalmente 25 tambores.Para chegar à torre, deparamos com estes degraus extremamente íngremes que parecem nunca mais ter fim, chegamos lá acima, sufocados de cansaço… Encontrámos então um largo salão onde se expõem ao longo das paredes 26 tambores. Além dos 25 que servem para as horas, um deles, é o único original que foi preservado até hoje.
Como já não existia hoje em dia a função de ter de dar as horas, as autoridades organizam uns shows, fazendo com que os visitantes possam sentir a solenidade da Torre dos tempos antigos, e são tocados ali ao vivo de meia em meia hora, por alguns funcionários, que nos deixam maravilhados pela sua potente sonoridade.Além dos tambores, também achei interessante um aparelho de medição de tempo - a clepsidra de bronze. A original já não se conservou até aos dias de hoje, e a clepsidra que nós encontrámos, é uma cópia produzida pela Agência de Conservação das Torres de Sinos e de Tambores de Pequim e pelo Instituto de Suzhou, mas mesmo assim, fica uma ideia de como os tempos antigos funcionavam...Cá fora num varadim, podemos desfrutar da vista parcial sobre o bairro que acabámos de visitar com os seus caracteristicos telhados cinzentos. Hutongs, na verdade, são passagens formadas por muitos pátios organizados em ruas estreitas de diferentes tamanhos.
Já passava há muito da hora do almoço e um certo desconforto instalou-se nos nossos estômagos. Fomos encontrando alguns restaurantes com comida tipicamente chinesa e até chegámos a entrar num deles, mas ao olharmos para as mesas percebemos que aquelas tigelas onde se via um caldo escuro e outros pratos carregados de malaguetas, não era exactamente o que pretendiámos.Descobrimos este simpático Café no largo da Torre dos Sinos.
Lá dentro,encontrámos um ambiente acolhedor e as duas jovens que nos atenderam, foram uma simpatia. O menu estava nas duas línguas e elas também falavam o suficiente para nos entendermos. As sandes estavam uma delicia e o batido de chocolate aconchegou-nos o estômago e deu-nos nova energia para continuarmos o passeio.
Apesar do crescente número de arranha-céus nesta Capital, os hutongs continuam a ser um dos símbolos mais importantes de Pequim.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Natal Feliz...

Mais um ano em que o Pai Natal anda super atarefado com os milhares de pedidos que lhe vão chegando de todas as partes do planeta. Mas afinal, o mais importante que as prendas, será o que o natal significa em si.

Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.
David Mourão-FerreiraAs comemorações do Natal conduzem-nos ao entendimento e à eterna lição de humildade de Jesus, no momento preciso em que a sua mensagem de amor felicitou o coração das criaturas, fazendo-nos sentir, ainda, o sabor de actualidade e dos seus divinos ensinamentos.
O Natal exprime renovação da alma e do mundo, nas bases do Amor, da Solidariedade e do trabalho.
A todos os meus amigos e leitores, votos de um FELIZ NATAL, com muita paz, amor e entendimento entre todos os seres de Deus.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mais um Natal em Pequim

Mais uma vez estamos a viver o clima, o ambiente, os sentimentos e as emoções de uma grande festa, que é sempre para nós, esta época de Natal.
Por isso mesmo não podíamos deixar a nossa filhota mais nova sem os nossos miminhos e os cozinhados desta época, uma vez que ela está a estudar numa Universidade de Pequim e, à semelhança dos anos anteriores, de novo voámos neste último sábado direitos a Pequim.
O encontro foi de alegria...
Desta vez achámos muito frio que nos anos anteriores, viemos encontrar Pequim com uma temperatura com -9 contra os menos -14 do ano passado, mas um vento gélido vindo da Sibéria,que atravessava toda a roupa, deixou-nos com pouca vontade de andar na rua.
Mas o entusiasmo de nos encontrarmos de novo nesta fantástica cidade, no dia seguinte, domingo, fomos rever os locais nossos conhecidos e não resistimos a fazer algumas compras nos arredores de casa.Como sempre nesta altura, Pequim veste-se de luzes e por todos os Centros Comerciais, podemos ver enormes e bem iluminadas árvores de natal.
As lojas estão sempre cheias de gente e de mercadoria a preços chamativos, não só próprios para esta época, como para todos os gostos e bolsas. Até porque os chineses não dão o mesmo sentido ao Natal, como nós os ocidentais.
Como vivem por cá muitos estrangeiros, ninguém sente a falta de nada material, porque mercados, lojas, restaurantes e o comércio em geral, providenciam tudo para que nada nos falte.
Ontem decidimos fazer uma visita ao Mercado das Sedas.
Basta apanhar o Metro, que tem uma rede impecável por toda a cidade, com as indicações, além do chinês, também em inglês, portanto para um estrangeiro também se torna fácil de seguir as indicações para o destino pretendido.
As mudanças para outras linhas, são anunciadas também em inglês, bem como as indicações que vão aparecendo num quadro electrónico dentro da carruagem, vai informando nas duas línguas, qual a estação que dá a ligação para outras estações.
Se a carruagem estiver muito cheia, espera-se pelo próximo, pois estão permanentemente a passar,é por isso um serviço, rápido, cómodo, que serve toda a cidade ao módico preço de 2 yuans (20 centimos de euros).Uma nota curiosa: em todas as estações há uma vigilância bastante apertada, ou seja, ninguém entra no recinto sem primeiro passar a mala, sacos ou bagagem por estas máquinas electrónicas a fim de evitar que algum louco transporte armas, facas ou algo que possa pôr em perigo a vida dos passageiros. Não é por acaso que Pequim é considerada uma cidade das mais seguras da China.Logo à saída do Metro, lá está em letras bastante grandes o famoso "Mercado da Seda", que não vende apenas vestuário e tecidos em seda como o nome indica, mas de tudo um pouco, desde sapatos, botas, malas, casacos, casacões, calças, toalhas, peças artesanato, tapetes, jóias, relógios, brinquedos e até existem algumas salas para fazer massagens aos pés dos cansados turistas, porque são 6 andares (incluindo duas caves)com corredores infindáveis de artigos a preços tentadores.Este é de facto o mundo das pérolas. Elas existem de todos os tamanho, feitios, qualidade, preços, que são discutíveis, ou seja, se nos pedirem 400 yuans, vai baixando conforme mostrarmos desinteresse até que acaba no preço razoável de 100 ou 80 yuans...
Ainda fomos visitar mais uma zona de compras conhecida por Xidan, onde há Centros Comerciais para todos os gostos, ou seja, os que vendem roupas e objectos com etiquetas de marcas caras e outros Centros Comerciais mais populares com artigos a preços acessíveis.Aqui está o interior de um desses Centros Comerciais como se pode ver, tem uma belissima árvore de natal, mas os produtos de todas estas lojas são de marcas famosas, como a Boss, Kalvin Klein, MaxFactor, Levís, Gucci, etc, etc.Dentro de um Centros Comerciais em Xidan, que são enormes, modernos, com produtos de bom aspecto, mas muito caros.
Os vinhos nacionais, como os de renome internacional, também têm grande destaque, não só pelos supermercados, como também nos Centros Comerciais como é o caso deste.
O que me encanta são os amplos corredores, onde não foram esquecidos bancos bastante originais para as pessoas descansarem... É esse bom aspecto que atrai o olhar e a vontade de escolher por exemplo, uma destas lindas caixas de chocolates, uma excelente e vistosa prenda para este Natal. Mas... a mais pequena custa 128 yuan (13 euros)...

A bateria do seu telemóvel está descarregado? Pois aqui, em pleno Centro Comercial, pode ser carregado nesta máquina durante o tempo necessário para poder voltar a utilizá-lo.Espaços tipo barzinho para se poder tomar uma bebida, lanchar ou mesmo comer um iogurte como o que documenta na foto, devido a uma campanha/promoção de uma nova marca de iogurte de frutas, que aparentemente estava a ter muito êxito, porque os lugares estavam todos ocupados e pessoas em pé à espera...

E a pastelaria? Meu Deus, é o que se queira, existem imensas pastelarias que fabricam diversas qualidades de pão e os bolos são tão perfeitos e bem enfeitados, que parecem de plástico...

Num outro Centro Comercial, mais popular, havia bancadas e bancadas de doces (alguns são frutos secos embrulhados em papel alegre), muito apreciados pelo povo chinês e... não só, alguns deles, são deliciosos ao nosso paladar.
E pronto, gostámos de visitar a zona comercial de Xidan (com o mesmo nome do Metro), que merecia ser vista com mais tempo, mas o dia passou rápido demais, escurece cedo e à noite o frio é pior, e depois, o regresso a casa, com milhares de pessoas no Metro é de evitar...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Porque gritamos?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:
"Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?"
"Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles.
"Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?"
Questionou novamente o pensador.
"Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou um outro discípulo.
E o mestre voltou a perguntar:
"Então não é possível falar-lhe em voz baixa?"
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
Então ele esclareceu:
"Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?"
O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito.
Para cobrir essa distância, precisam de gritar para se poderem escutar mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais alto e forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da grande distância da incompreensão.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas não gritam! Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar, apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas."
Por fim, o pensador concluiu:
- "Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".
Mahatma Gandhi

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Marido Rico, procura-se!

Uma jovem escreveu um email para o Financial Times (o maior jornal sobre economia do mundo), pedindo dicas sobre "como arranjar um marido rico". E o pedido foi publicado...
Sou uma jovem e linda (mas maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Gostaria de me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas?
Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não me vão fazer morar num lugar como o Central Park West que tanto desejo.
Conheço uma mulher (da minha aula de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente.
Então, o que ela fez que eu não possa fazer? Qual a estratégia correcta? Como posso eu chegar ao nível dela? (Raphaella S.)


Ainda mais inacreditável que este estranho "pedido", foi a disposição de um rapaz que, muito inspirado, respondeu à mensagem.
Cara Raphaella
Li o seu pedido com grande interesse, e, após pensar muito cuidadosamente no seu caso, fiz a seguinte análise da situação:
Primeiramente, informo-a de que ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou a tomar o seu tempo à toa...
Posto isto, considero os factos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que você procura), o que você oferece é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as vírgulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples, uma proposta clara, sem entrelinhas, ou seja, você entra com a sua beleza física e eu entro com o dinheiro.
Mas há um problema!
Com toda a certeza, conforme o tempo vai passando, a sua beleza vai diminuindo e um dia vai acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará a aumentar.
Assim, em termos económicos, você é um activo que vai sofrendo depreciação e eu sou um activo que vai rendendo dividendos. E você não vai somente sofrer uma depreciação progressiva, mas sim, vai sempre aumentar!
Explicando melhor, você tem agora 25 anos e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos, a cada ano. E no futuro, quando você se comparar com uma foto de hoje, verá que passou a ser um caco.
Isto é, hoje você está em 'alta', na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada.
Usando o linguajar de Wall Street, quem a tiver hoje, deve mantê-la como 'trading position' (posição para comercializar) e não como 'buy and hold' (compre e retenha), que é aquilo que você agora oferece...
Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um 'buy and hold') consigo, não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim! Portanto, em termos sociais, será um negócio razoável para se concretizar só... para namorar.
Mas, para isso e, para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' você é, eu, na condição de provável e futuro utilizador dessa 'máquina', quero apenas o que é da praxe num negócio: fazer um 'test drive' antes de fechar o negócio...podemos marcar?"
(Philip Stephens, associate editor of the Financial Times - USA)


OBS.: Não é por acaso que este homem, ainda tão jovem, ganhe mais de US$ 500.000 por ano !

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

José Régio, professor/poeta

Dizem que, era assim que este professor ia de terra em terra, numa constante procura por objectos de arte, principalmente de arte popular e interessando-se por tudo o que é original, que mais tarde, doou todas essas peças à Câmara de Portalegre e que, hoje, estão expostas no Museu José Régio.

Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO, Soneto escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos).
Tão actual em 1969, como hoje...


Foi possivelmente o único escritor em língua portuguesa a dominar com igual mestria todos os géneros literários: poeta, dramaturgo, romancista, novelista, contista, ensaísta, cronista, jornalista, crítico, autor de diário, memorialista, epistológrafo e historiador da literatura, para além de editor e diretor da influente revista literária Presença, desenhador, pintor, e grande colecionador de arte sacra e popular. Foi irmão do poeta, pintor e engenheiro Júlio Maria dos Reis Pereira.O professor Reis Pereira (1901 - 1969), chegou a Portalegre em Outubro de 1929 para ensinar Português e Francês. Em vésperas de partir, escreve a um seu amigo: - "Ai de mim! parto amanhã para Portalegre! Parece que fica lá para o coração do Alentejo" (...) (...) Que gente lá irei encontrar, Santo Deus!"
Naturalmente encontrou muito boa gente porque, em Portalegre, acabou por permanecer mais de 30 anos, desenvolvendo a par do ensino e da escrita, o interesse por objectos de arte.
É considerado, por alguns, como um dos vultos mais significativos da moderna literatura portuguesa. Recebeu, em 1961, o prémio Diário de Notícias e, postumamente, em 1970, o Prémio Nacional de Poesia, pelo conjunto da sua obra poética.
A cidade de Portalegre, comemorou em Fevereiro deste ano, os oitenta anos da sua chegada, promovendo encontros com amigos, conferências, exposições, recitais de poesia, visitas culturais e pedagógicas, para recordar este singular poeta.

José Régio e o tempo:
Não te desejo um presente qualquer,
Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem.
Desejo-te tempo, para te divertires e para sorrir;
Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados
E muitos sucessos comemorados.
Desejo-te tempo, para planear e realizar,
Não só para ti, mas também para os outros.
Desejo-te tempo, não para ter pressa e correr,
Desejo-te tempo para te encontrares,
Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio,
Desejo-te tempo, para que fiques;
Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém.
Desejo-te tempo para tocares as estrelas,
E tempo para crescer e amadurecer.
Desejo-te tempo para aprender e acertar,
Tempo para recomeçar, se fracassares...
Desejo-te tempo também para poder voltar atrás e perdoar.
Desejo-te tempo, para ter novas esperanças e para amar.
Não faz mais sentido protelar.
Desejo-te tempo para ser feliz.
Para viver cada dia, cada hora como um presente.
Desejo-te tempo, tempo para a vida.
Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo!

Como escritor, José Régio é considerado um dos grandes criadores da moderna literatura portuguesa. Reflectiu em toda a sua obra problemas relativos ao conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade. Usando sempre um tom psicologista e misticista, analisando a problemática da solidão e das relações humanas ao mesmo tempo que levava a cabo uma dolorosa auto-análise, alicerçou a sua poderosa arte poética na tríplice vertente do autobiografismo, do individualismo e do psicologismo. Seguindo os gostos do irmão, Júlio Saul Dias, expressou também o seu talento para as artes plásticas ilustrando os seus livros.

CÂNTICO NEGRO
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

Aqui fica o pequeno retrato de um dos meus autores preferidos, que mostra a dimensão do Homem-Artista, uma das mais lúcidas consciências literárias do seu tempo.
Possuidor de uma sensibilidade rara, deixou nos múltiplos vectores da sua actividade intelectual, as marcas inconfundíveis do seu talento criador e da firme personalidade que o caracterizava.
As suas casas de Vila do Conde e de Portalegre são hoje museus.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Frasquinhos de rapé

Em finais da Dinastia Ming, o tabaco chegou à China através de pequenos frascos que se foram gradualmente introduzindo em todas as províncias.
Mas esta arte nasceu um pouco ao acaso: nos finais da Dinastia Qing, um funcionário viciado em rapé, parou perto de um pequeno templo para descansar. Pegou na sua pequena garrafa de cristal que continha rapé para o cheirar, e achou que já estava vazia. Então, ele na esperança de conseguir mais algum pó, raspou um pouco do que estava agarrado às paredes interiores do frasco, com uma pequena e fina vara de bambu, que foi deixando algumas linhas visíveis no seu interior, que se viam através da parede transparente do frasco.
Um jovem monge que o observava com uma certa curiosidade, reparou então nesses riscos e teve uma inspiração: a de fazer um desenho no seu interior! Assim, uma nova arte nasceu!
Inserir uma caneta delgada especialmente concebida com uma curva na ponta através do gargalo, contar com um talentoso artista que trabalha no espaço apertado da cavidade da garrafa, capaz de gravar desenhos vivos e caligrafias na superfície interna da garrafa, torna a pintura interna das garrafas de rapé numa forma de arte única.
A técnica da "ousada pintura" dos artistas de hoje, que pintam estes pequenos frascos, não são muito diferentes da usada no início da sua invenção.
Este tipo de habilidade desenvolvida em pintar o interior das garrafas, deu origem a verdadeiras obras de arte.
O comércio dos pequenos frascos tem prosperado em todas as provincias chinesas, tornou-se hoje num importante património cultural da China.
Em qualquer loja ou Centro Comercial, podemos ver expostos, dezenas destes frasquinhos a preços acessíveis, dado que todos eles são pintados à mão, não só pelos mestres, como por alunos de escolas desta arte, agora espalhadas por toda a China.
Sem dúvida, os frascos que mais interesse despertam entre os coleccionadores, são a pintura dos seus interiores. Como por exemplo este lindo frasco de cristal translúcido com esta bela e colorida imagem pintada no seu interior.Encontrei este simpático artista de frasquinhos, pintado ali ao vivo, no Mercado da Seda, em Pequim, e não resisti em ficar algum tempo a observá-lo. É incrivel como é possível tanta precisão e meticulosidade, para as imagens saírem tão perfeitas! Parece magia o que estes artistas conseguem fazer num espaço tão pequeno.
Ele contou-me que, desde muito jovem, começara a aprender esta arte, porque hoje existem muitas escolas, mas há doze anos atrás, eram escolhidos os mais habilidosos e que tivessem inclinação para a pintura e os mestres eram muito exigentes com a perfeição dos desenhos.
É claro que comprei mais um frasquinho...
Normalmente estes pequenos frascos vêm metidos em vistosas e acolchoadas caixinhas, não só para a sua protecção, como também se torna igualmente uma bonita oferta.Com o passar do tempo, estes pequenos frascos deixaram de ser utilizados para transportar o pó de rapé para apenas se tornarem em objectos decorativos e de colecção para círculos palacianos, escolares de literatos e também para as classes mais marcantes da sociedade da Dinastia Qing.
De tamanhos e formas diversas e devido ao seu pequeno tamanho, são fáceis de coleccionar e a sua decoração interior é tão versátil e diversificada, que é impossível conseguir uma colecção única, porque varia de gosto de artista para artista, desde desenhos de animais, pessoas, paisagens até à caligrafia, podemos encontrar um pouco de tudo nestas artísticas miniaturas. Na tradição chinesa, quem possuir gravuras ou algum objecto onde apareçam episódios dos “oito imortais”, terá um comportamento altamente moral e sábio e um dia se converterá num dos imortais.
Muitos pintores chineses são, ao mesmo tempo, poetas e calígrafos. Eles frequentemente acrescentam um poema da sua própria autoria e, invariavelmente, autenticam-no com o seu selo (nome).Estes pequenos frascos de rapé, que podem ser de vidro, porcelana ou ágata, são de pequena dimensão, não mais de 6-7cm de altura e 4-5 cm de largura, mas o talentoso artista pode produzir, no espaço limitado das paredes internas, qualquer assunto sobre toda a gama de pintura tradicional chinesa - retratos humanos, caligrafia, plantas, paisagens, flores, insectos, peixes, pássaros, parecendo estar cheios de vida.
Podem encontrar-se dentro destes pequenos frascos outros temas como lendas folclóricas chinesas, episódios históricos, religião e filosofia (confucionismo, taoísmo e do budismo chinês). Outros temas pintados, são puramente decorativos que indicam os bons desejos e expectativas das pessoas como o da boa sorte e felicidade, justiça, boas colheitas, saúde e longevidade.Actualmente, podemos encontrar estes pequenos frascos já sem a pintura interior, mas com pinturas externas, que também atraem muitos coleccionadores devido aos seus exóticos desenhos e a técnicas muito próprias da cultura chinesa.