domingo, 25 de agosto de 2013

Uma tarde passada entre o chá e o jardim

Numa tarde, em que o céu estava azul e havia sol (coisa rara em Macau), deu-me uma enorme vontade de estar em liberdade, ou seja, não me apetecia ficar enfiada no emprego, precisava de fugir da rotina, sentia-me a sufocar....
Neste estado de alma, apanhei o autocarro para Macau e saí na paragem do Jardim Lou Lim Iok.
Despertou-me a atenção da casa de chá, frente à paragem, que tinha sido em tempos a residência da família Lou.
Transformada pela arquitecto Carlos Marreiros e inaugurada em 2005, ficou assim um espaço de homenagem à tradição do comércio, preparação e consumo de chá em Macau.
O novo edifício, que tem o nome de Casa Cultural de Chá de Macau, apresenta uma arquitectura de forte influência portuguesa, combinada com o telhado em telha de cerâmica chinesa, evidenciando o característico encontro das culturas ocidental e oriental. Estranhamente lá dentro, não se ouve os ruídos da rua.
O chá está estreitamente ligado a Macau, que tem uma incalculável abundância em relíquias culturais relacionadas com a cultura do chá, sob a forma de poemas e dísticos dedicados ao chá, lojas e tendas de chá, casas de chá, arte do chá, comerciantes e peritos de chá, enfim... hábitos de chá.
Não é de estranhar que tenha sido erguido uma casa museu dedicada ao chá e aqui tem-se realizado várias exposições temporárias e a longo prazo, bem como actividades culturais relativas ao chá. Tudo isto serve para evidenciar a cultura do chá em Macau, fornecer informações sobre o chá na China e no ocidente, bem como para divulgar conhecimentos e estudos, pelo mundo inteiro, sobre a cultura do chá.


Depois, dei uma volta pelo jardim, procurei um banco junto ao lago e ali fiquei a contemplá-lo. Vêem-se pessoas mais velhas a fazer exercício, sozinhas ou em grupo e mesmo utilizando a natureza como apoio (uma senhora aproveitava o tronco de uma árvore mais pequena para fazer alongamentos).
Este é um jardim muito bonito e o mais chinês de todos os jardins de Macau, o Jardim Lou Lim Ieoc, foi construído no século XIX por Lou Lim, um rico comerciante chinês que deixou uma herança para o seu filho Lou Lim Ieoc. Com o declínio da fortuna da família, o jardim caiu em ruínas. Posteriormente adquirida pelo Governo, foi restaurado e aberto ao público em 1974.
Chegaram-me vozes alegres de cantigas de uma música popular chinesa. Um grupinho de pessoas, possivelmente reformados, que ali se juntam algumas vezes, para conviver e recordar velhas canções.

O tempo passou rápido entre a promoção da cultura do chá, a minha nostalgia e a diversão dos que me rodearam nessa tarde, tudo num só jardim.
 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Filhos devolvem-se?



Muitos casais ambicionam ser pais e não conseguem por razões diversas. Na maioria dos casos, a adopção é o último caminho a seguir.
Há quem consiga finalmente ver esse sonho realizado, mas em muitos casos, acontece vir depois a desilusão, porque a criança não corresponde ao filho que se idealizou.
Foi notícia o caso de uma norte-americana, que devolveu um filho adoptado, à Rússia.
A cultura americana é muito diferente da nossa e mesmo nas séries americanas, é muito comum ouvirmos falar da história de vida dos criminosos e da passagem por várias casas de acolhimento e de adopção.
Qualquer notícia que fale da devolução de uma criança, é uma notícia chocante. As crianças não são objectos, não se compram na mercearia da esquina e assim como não vêm com livro de instruções, não se deviam devolver.
Felizmente que em Portugal não há devolução de crianças adoptadas. Depois de decretada a adopção, por lei, não há diferença nenhuma entre um filho biológico e um adoptado, mas se houver a devolução de um filho, isso tem um outro nome: abandono!
Numa adopção, não há grandes opções de escolha, de um dia para o outro, entra pela casa dentro um estranho, raramente um bebé, mas sim alguém já com a sua personalidade…
Nem sempre os casais têm a capacidade de gostar de imediato dos estranhos que vão conhecendo, ora, se este estranho fica a viver em casa... e se ainda por cima este estranho é uma criança, que já passou por situações de vida em que foi maltratado, violentado, abandonado, o mais certo é que não seja o filho ideal, que a maioria das pessoas sonhou.
O primeiro que faz uma criança adoptada, é testar os limites dos novos pais, esticam a corda ao máximo e quanto mais corda se der, mais eles esticam, faz parte do processo normal. Até se sentirem seguros, até concluírem que a ligação é mesmo definitiva, eles fazem trinta por uma linha, haja paciência e amor, que com o tempo acalmam...
Há que recordar que estamos a falar de crianças que vêm de instituições, crianças que a maior parte das vezes estão habituadas a viver com regras, que não tem nada a ver com a vida familiar. E, se a isto juntarmos a pouca auto-estima que tem alguém que já foi abandonado, temos uma mistura muitas vezes explosiva... nem sempre os futuros pais estão preparados para isto e concluem que não são capazes.
Então surge tantos casos de “devolução” e de abandono de novo, como se de uma peça defeituosa se tratasse.
Deve ser algo que marca para toda a vida...e nenhuma criança deveria ter de passar por isso.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O restaurante do Senhor Shuang



De vez em quando, gosto de ir comer a um restaurante chinês, ali para os lados do Mercado Vermelho, hábito que me ficou quando vivi por aqueles lados e que na altura, fui arrastada por uma amiga macaense. Fiquei cliente!
O dono, é o senhor Shuang, que anda sempre por ali a ver se está tudo em ordem, fala um bocadinho de português, o suficiente para nos conseguirmos entender em simples conversas.
Numa das vezes em que lá fui almoçar, ele sentou-se na minha mesa, então perguntei-lhe com curiosidade, se se lembrava dos guardas vermelhos, na altura de “Revolução Cultural”. Acenou afirmativamente com um ar grave e confidenciou-me que tinha fugido de Xangai, mais a esposa Xiaoli, em 1970.
Tinham acabado de se casar, ele com 22 anos e ela com 19, numa época conturbada, a Revolução Cultural, que logo se transformou numa luta pelo poder.
Empreendida pelo grupo maoísta, sustentada pelo Exército Popular de Libertação, precisamente na altura em que Mao, entrou em choque com Lin Piao, seu sucessor e chefe do Exército Popular.
O movimento foi-se multiplicando em organizações revolucionárias, que se inspiravam no livro “Pensamentos de Mao Tsé-Tung”, conhecido como “Livro Vermelho”, onde se firmavam as ideias de reeducação socialista, críticas ao burocratismo, fidelidade a Mao e alerta contra o inimigo.
E todos eram inimigos, ninguém estava livre de um dos fanáticos jovens se lembrarem de inventar mentiras, para “mostrar serviço” e assim enviar milhares de inocentes para os campos de reeducação. Decidiram fugir.
Viajou com a esposa mais de um mês, sempre escondidos, até chegarem a Macau, para junto de um tio, que lhes deu guarida.
Dormiram muito tempo numa esteira à entrada da porta de casa desse tio. Ele e a esposa passaram a trabalhar na mercearia, que lhe foi deixada dez anos depois, após o falecimento do parente, pois ele não tinha mais ninguém.
Com um sorriso matreiro, o senhor Shuang confessa que foi uma sorte, porque o casal tomou a rédea ao negócio, que ainda durou uns dois ou três anitos no mesmo ramo. 
O tio deixara-lhes também algumas poupanças e, juntamente com um dinheirinho que tinham amealhado, na esperança de voltarem um dia à terra, que os viu nascer, decidiram comprar o espaço. Com o nascimento da filha, foram ficando…
A esposa cozinhava bem e por isso, resolveram apostar  na restauração. Após algumas obras, abriram o restaurante, com espaço que nessa altura, dava para uns quarenta lugares. Lentamente, foram angariando clientela.
Passados cinco anos, o senhor Shuang comprou a lojinha ao lado, que vendia artigos funerários e ampliou o restaurante para oitenta lugares. Agora sim, o estabelecimento passou a ser considerado “médio”, foi ganhando a confiança de clientela mais selectiva, que eram na sua maioria homens de negócios, funcionários públicos e bastantes estrangeiros, atraídos pela fama dos seus preços razoáveis e cozinha de qualidade.
Os melhores cozinheiros, têm sido ao longo dos anos, disputados pelo senhor Shuang, que lhes paga razoáveis salários, acima da média dos outros restaurantes.
-“Quando abri o meu restaurante em 1985, nesta rua, havia apena 5 restaurantes, agora são 97, embora tenha uma enorme concorrência, não me queixo, porque ganho muito bem a minha vida e boa clientela nunca me faltou. Mas com este problema dos preços das rendas sempre a aumentar, agradeço aos deuses a inspiração que tive em ter comprado o meu espaço. Tenho visto muitos vizinhos fecharem as suas portas e no seu lugar, obras, mais obras, um dia são uma coisa, noutro dia outra, totalmente diferente da primeira".
A chegada da filha do Senhor Shuang, interrompeu-nos a conversa. Baixinha e roliça como a mãe, fez-me uma vénia, depois do pai nos apresentar.
Ela tinha estudado inglês numa Universidade de Xangai e ainda trabalhara três anos nos Estados Unidos, onde casara com um americano. Mas o casamento e a vida por lá não tinha resultado, divorciou-se e de regresso a Macau, passou a ser o braço direito do pai, e futura herdeira do negócio.
Sobre o futuro, o senhor Shuang disse não ter nenhuma inquietação, não haveria regresso ao passado e Xangai, só para passear…

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Malditas baratas...



Mas porque raio Deus criou estes intoleráveis bichos? Para além das baratas serem uns seres nojentos e péssimos “colegas” de quarto, casas de banho, cozinha, escritório, elas estão por toda a parte, pregando-nos sustos e é impossível conseguirmos conviver com elas, tal é a repulsa. E isto há mais de 300 milhões de anos! Ousados somos nós, ao tentarmos matá-las à chinelada e a insecticidas em spray.
Se procurarmos uma razão científica, dizem-nos que foi para equilibrar o ecossistema, pois o desaparecimento delas, talvez causasse uma superpopulação de mosquitos, moscas e outros insetos, que infernizam a nossa vida, e que fazem parte, por exemplo, da alimentação das lagartixas.
Tudo bem, mas porquê… as baratas urbanas? Que afinal se instalam nas nossas casas, usufruindo comidinha da boa, passeiam-se na nossa cama e por tudo quanto é sítio. Isso, é que eu não suporto!
Basta aparecer UMA! E pronto, está instalado o caos de uma luta sem tréguas.
Mesmo com os cuidados habituais, de tapar ralos com fitas grossas, não deixar comida ou loiça suja na cozinha, colar inseticida por trás das portas, pozinhos venenosos nos cantinhos dos armários, enfim, prevenção não tem faltado, mas elas, ao fim de “provarem” alguns dos venenos que se vendem nos supermercados, ficam imunes.
Quando me deparo com uma, exclamo intrigada: “Por onde é que ela entrou!?” Enquanto, é claro, não sossego até vê-la morta, porque não dá para baixar a guarda.. Pois mesmo com todos os cuidados e prevenções, elas ENTRAM e INSTALAM-SE a fazer filharada, a pontos de não haver spray nem chineladas que lhes resista.
Neste último mês, experimentei de tudo quanto é veneno. Levantava-me a meio da noite com uma lanterna para as surpreender e… lá estavam elas, em cima da bancada da cozinha, no corredor ou mesmo em cima da minha secretária, em reuniões baratais de invasão/ataque a todos os cantos da casa.
Alimentam-se de jornais, de livros, de migalhas, tudo lhes serve para sobreviver. Onde estão as lagartixas para se alimentarem delas? Porque as donas baratas não comem afinal os mosquitos/melgas, que de vez em quando zumbem lá por casa?
Repito: porque Deus fez as baratas… urbanas?
Pois, não tive outro remédio senão combatê-las com “armas semi atómicas”, pois tive de acabar por chamar a desinfestação, para as arrasar de vez. Nós é que tivemos de sair de casa para durante dois ou três dias, o veneno letal ficar a pairar por toda a casa e mergulhar nos sítios mais escondidos, a fim de envená-las!
Só que, quando regresso a casa, deparei com uma delas a passear na parede, outra dentro do roupeiro, outra em cima da mesa… mas afinal estes bichos são imortais? Eu que para entrar em casa quase ao fim de três dias, tive de levar uma máscara, quase não conseguia respirar e elas a divertirem-se à minha custa?
A sua resistência é bem conhecida, pois elas conseguem sobreviver um mês sem comer e vários dias com a cabeça arrancada, e, segundo li, são as únicas a sobreviver a uma explosão nuclear.
São bichos muito sofisticados! Os seus pelinhos do traseiro (os cercis) que funcionam como radares, capazes de perceber movimentos subtis do ar e que lhe permitem obter informações sobre possíveis ameaças, como localização, tamanho e velocidade do que se aproxima, que somos nós em princípio, é por isso que não as vemos, porque se escondem. Ainda tem uma outra característica que é o de ser um animal nocturno, pois não gosta de luz. 
E, pasme-se com esta informação: uma barata que é encontrada durante o dia, indica uma infestação, pois encontrando uma, há mais 1.000 escondidinhas, motivo porque aquela ficou sem lugar na comunidade e teve que perambular à procura de lugar para se esconder.
E pronto, querem guerra, é guerra que vão ter! Nova chamada para a desinfestação, que foi ainda mais exigente no veneno e na fumegação. 
Mais dias de ausência do nosso lar e, passados três dias, o chão parecia uma batalha campal, com um mar de baratas de papo para o ar por toda a casa.
O pior foram as limpezas, na casa inteira. Ter de lavar TODAS as loiças com água, detergente e lexívia, armários, roupas, chão mais de uma vez, etc, etc, um trabalhão que parece não ter fim. Esses malditos bichos conseguem alterar a vida de uma família inteira, só porque existem, são nojentos e procriam-se a uma velocidade vertiginosa.
Estou exausta, mas de momento, durmo mais descansada, até ver uma de novo, e então começa outra vez a infindável batalha contra estes “bichinhos de Deus”, que não deve ter pensado muito bem nas futuras consequências, ao permitir a sua existência…


PREVENÇÃO:
http://www.univap.br/campi/cipa/docs/dica_II_baratas.pdf