domingo, 27 de janeiro de 2013

Vida Intensa

Estávamos todos a jantar com um grupo de amigos, quando ela declarou em voz muito alta, que os seus dias tinham 36 horas. Disse-o com tanta convicção, que todos pararam de comer e depois riram dela.
Mas, imperturbável, ela começou a explicar a quantidade de coisas que fazia para caber dentro desse tempo, miraculosamente programado por ela e só para ela.
Depois de enumerar imensas tarefas, que a qualquer de nós demoraria 48 horas, todos levaram para a brincadeira, até porque a maioria achava que ela não batia bem da cabeça.
Mas eu, sabia que ela falava verdade, já o tinha desabafado por diversas vezes, afirmando que achava a vida muito curta, pois tinha muitos sonhos para cumprir. Passou a ser a sua obsessão.
E, sinceramente, um dia com apenas 24 horas, é cruelmente injusto, para conter tantos sonhos, que ela dizia ter de concretizar.
Ela queria tudo, queria o mundo numa vida. Queria num dia só, fazer caber uma dança, um livro, os seus textos, o seu trabalho, os seus amores, a atenção de toda a família, conviver num bar, ver um bom filme, aprender a tocar uma música, plantar uma árvore, ajudar alguém, e conhecer tudo aquilo que ainda não sabia – afinal, ela era ambiciosa o suficiente para querer saber de tudo um pouco, ou, de tudo um tudo.
E, ainda, todos os dias, descobria algo novo para colocar na sua infindável lista.
Eu disse-lhe que a achava muito ansiosa, mas então foi quando ela me explicou que um dia tinha lido algures, que a vida poderia acabar assim, no meio de uma frase ou de um texto qualquer como este.
-“Consegues imaginar?” perguntou-me com os olhos cheios de incompreensão.
Confortei-a! Estamos todos no mesmo “barco”. A vida pode ter coisas muitos tristes, mas temos a vantagem de poder sonhar...
Mas não se conformava! Conseguir terminar uma frase ou um texto, já seria uma tortura incalculável para ela, mas só de imaginar como seria terminar a vida, no meio dos sonhos, ou antes deles? Desde então, passou a correr o dia todo, numa luta sem tréguas com as horas, para o poder aproveitar ao máximo. Ela queria realizar alguns dos seus sonhos e com os seus vinte e tantos anos, o tempo escoava, fazia-lhe piruetas, não a deixava avançar…
Na verdade, agora o que ela queria, era chegar bem lá no alto da vida, olhar para ela, como alguém que assiste a um filme, sentir correr rápido todo aquele sangue quente nas veias e pensar com certeza: VIVI em plenitude!
Naquele dia, subiu ao prédio mais alto, deixou o vento gelado bater no seu rosto e os cabelos esvoaçar, sem se preocupar, fechou os olhos por alguns instantes, e, de braços bem abertos e o peito bem cheio de ar, atirou-se ao vácuo.
Finalmente conseguiu realizar o seu último sonho: VOAR!

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