quarta-feira, 3 de abril de 2013

Maria Alice...


Eu lembro-me bem dela, a minha vizinha Maria Alice, filha da ti Júlia, que tinha uma lojinha de venda de jornais, ao fim da minha rua.
Ela faz parte das minhas boas memórias, brincávamos desde os cinco anos até à minha adolescência, depois casei, fui morar para outra cidade. Deixei de a ver, mas  fui sabendo noticias dela, sempre que visitava a minha mãe.

A Alice tinha uma beleza serena e a alegria contagiante de alguém que é feliz e com um futuro promissor. Chegou a entrar na universidade! As últimas novidades, eram com ela, desde a moda, aos namorados, era por isso, a mais popular entre nós.
Um dia numa festa de amigos, teria ela uns vinte e poucos anos, quando provou pela primeira vez um “cigarrinho de erva”, dado pelo namorado de então, dizendo-lhe que era nice, que estava na moda e que toda a gente experimentava. Então ela pensou: - “Porque não? Que mal há nisso?”
Depois… voltou a fumar no dia seguinte, num outro dia, e nos que vieram depois. Nunca mais os largou! Dizia que não era vício, que em qualquer altura deixava de fumar. Atrás do cigarrinho “especial”, vieram outras experimentações, mais ousadas e mais fortes…
Os anos passaram, muitas coisas foram acontecendo, desde perder o emprego, à morte dos pais, ela deixou a alegria esquecida, lá no fundo da alma.
Reduziu-se a si própria e ao pó que consumia.
Entrou em casas de desintoxicação, pagas por uns tios, que tentaram ajudá-la.
Reaprendeu a viver e voltava sempre a desaprender. Uma vez e outra!
Perdeu a juventude e ganhou um brilho baço.
Andou a pedir moedas nos parques de estacionamento.
Vendeu o corpo.
Ficou sem a alma.
O tempo consumiu-lhe a memória.
Tem medo de si e já não tem forças para lutar mais.
Soube que ainda é viva e que há uns anos que não consome, mas tem vergonha de ser quem é. Às vezes esquece-se disso e sorri. Um sorriso desdentado, como a sua vida, sem brilho e sem cor…

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