quinta-feira, 29 de abril de 2010

Como conheci o meu amigo....

Um dia, quando eu era caloiro na escola, vi um miúdo da minha turma a caminhar nos corredores, transportando uma enorme quantidade de livros na mochila e nas mãos e dei comigo a pensar:
-“Porque será que ele leva para casa todos os livros numa sexta-feira? Deve ser mesmo um marrão…”
Como já tinha o meu fim-de-semana planeado (festas e um jogo de futebol com meus amigos no sábado à tarde), então encolhi os ombros e segui o meu caminho.
Conforme ia caminhando, vi que vinha um grupo de miúdos a correr na direcção dele.
Eles rindo, atropelaram-no, arrancando-lhe todos os livros dos braços e empurraram-no, de tal forma que ele caiu no chão.
Os seus óculos voaram, e eu vi-os aterrar quase aos meus pés. Ele ergueu o rosto e uma terrível tristeza estava estampada nos seus olhos, as lágrimas começaram a correr-lhe em silêncio pelas faces.
O meu coração penalizou-se! Então apanhei os óculos e quando me dirigi a ele ajudando-o a levantar-se, resmunguei furioso: -“Aqueles tipos são uns parvos! Alguém devia dar-lhes uma lição de boas maneiras.”
Ele deitou-me um olhar agradecido.
-“Ah, muito obrigado!”
Agora havia um grande sorriso na sua face. Era um daqueles sorrisos que realmente mostram gratidão. Baixei-me para o ajudar a apanhar os livros, e perguntei-lhe onde morava.
Por coincidência ele morava perto da minha casa e chamava-se Carlos, então eu perguntei como é que nunca o tinha visto antes? Respondeu que nos anos anteriores, tinha frequentado uma escola particular e a conversa generalizou-se por todo o caminho de volta para casa. Num gesto de simpatia, carreguei-lhe os livros e percebi que devia ser um miúdo muito porreiro. Num impulso, perguntei-lhe se queria jogar futebol no sábado comigo e com os meus amigos e ele disse que sim.E foi assim que ficamos juntos todo o fim-de-semana e quanto mais eu conhecia o Carlos, mais gostava dele. E os meus amigos pensavam da mesma forma.

Na segunda-feira, encontrei-o de novo no corredor e lá ia ele com aquela quantidade imensa de livros outra vez. Interceptei-o e perguntei curioso:
“- Com os Diabos pá, vais fazer o quê com os livros de novo?”
Mas ele sorriu simplesmente, entregou-me metade dos livros e fomos a conversar até à sala de aula.

Nos quatro anos seguintes, Carlos e eu tornámo-nos os melhores amigos e, de facto ele nunca me desiludiu.
Quando nos estávamos a formar começámos a pensar em escolher as nossas carreiras: Carlos seria médico, e eu ia tentar uma bolsa escolar na equipa de futebol. Eu sabia que seríamos sempre amigos e que a distância nunca seria um problema.

Carlos era o orador oficial da nossa turma e por isso teve que preparar o discurso de formatura. Eu estava super contente por não ser eu a subir ao palanque e ter de discursar, não tinha jeito nenhum para esse tipo de coisas.
No dia do discurso da nossa Formatura eu vi que Carlos estava óptimo. Tornara-se um homem, mais encorpado e realmente tinha uma excelente aparência, mesmo usando óculos. Na realidade, ele saia com mais miúdas do que eu, e todas elas o adoravam!

Confesso que às vezes eu até ficava com alguma inveja... e hoje, era um desses dias. Ele porém, estava nervoso por causa do discurso. Então dei-lhe uma palmadinha nas costas e disse-lhe em tom alegre:
-“Então, rapaz? Ânimo! Vais sair-te bem! Estamos a torcer por ti”
Ele olhou para mim com aquele olhar de gratidão tão característico e sorriu-me:
-“Claro!”Carlos subiu decidido ao palco, limpou a garganta e começou o seu discurso:
- “A Formatura é uma época especial para agradecermos àqueles que nos ajudaram durante todos estes duros anos. Um especial agradecimento os pais, aos professores, aos irmãos, talvez até a um treinador. Mas principalmente aos amigos! Eu estou aqui para lhes dizer que ter um amigo, é o melhor tesouro que alguém pode ter na sua vida e, por essa razão, eu tenho uma história para contar sobre como conheci aquele que é hoje o meu melhor amigo."
Eu olhei espantado para o Carlos, sem conseguir acreditar que ele ia contar a história sobre o primeiro dia em que nos conhecemos.
Ele começou por contar algo que eu ignorava por completo: ele tinha planeado suicidar-se naquele fim-de-semana, porque se sentia marginalizado e não conseguia adaptar-se à escola e aos colegas! Contou a todos como tinha esvaziado o seu armário na escola, para que a mãe não tivesse que fazer isso depois de ele morrer. Estava a levar as suas coisas todas para casa quando os acontecimentos se precipitaram e eu entrei na sua vida. Ele olhou directamente no meus olhos e lançou-me um pequeno sorriso, continuando:
-“Felizmente eu encontrei alguém que de repente se interessou por mim, se tornou meu amigo e salvou-me de fazer algo abominável. Mas tudo passa e consegui ter um caminhar cada vez mais firme e consciente, percorrendo as inúmeras experiências com o meu amigo. A vida vai-nos fornecendo as bases que moldam e lapidam as arestas da nossa personalidade e tudo isso, graças ao companheirismo e à importância que podemos dar no momento certo, a quem precisa de nós".
Eu ouvia-o com um nó na garganta, assim como toda a plateia o fixava e ouvia atentamente com admiração, enquanto aquele rapaz popular e bonito contava a sua história sobre um momento de fraqueza. E depois senti os olhares da mãe e do pai sobre mim com aquele sorriso de gratidão que eu tão bem conhecia. Eu nunca me tinha apercebido de nada até àquele dia da inesperada revelação. Afinal, com um pequeno gesto podemos mudar a vida de uma pessoa, para melhor ou para pior. Eu estou feliz por ter cedido ao meu impulso de ajudar aquele rapaz...

NOTA: Este é um testemunho que já vem sendo divulgado há algum tempo através de emails, que eu adaptei e que nos deixa uma lição sobre a amizade, pois nunca é demais partilhar estas bonitas histórias com os cibernautas que me visitam.

Os amigos são anjos que nos põem de pé, quando as nossas asas têm problemas e não se lembram de como se deve voar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Grão de Bico

Saiba por que o Grão de Bico vale ouro...
O grão-de-bico é um alimento mais rico do que o feijão em muitos aspectos.
Entre 20 e 30% da sua constituição é puro em proteína. Possui muitas fibras, tais como: o zinco, potássio, ferro, cálcio e magnésio. Se for consumido todos os dias, faz ganhar massa muscular, aumenta o bom humor, reduz o nível do colesterol mau e regula os intestinos.

Mas a sua qualidade mais famosa é a de gerar "felicidade", porque possui mais triptofano do que o feijão, ou seja, o mesmo aminoácido essencial que faz do chocolate essa bela fonte de bem-estar e de redução do stress.

Estudos recentes sobre os produtos alimentares no dia-a-dia, escreveram em revistas cientificas o seguinte apontamento:
"Em seres humanos metabolicamente normais, o aumento do consumo do grão-de-bico tem como consequência uma maior produção da serotonina".
Por ter ômega 3 e 6, é indicado para prevenir doenças cardiovasculares. E quem tem diabetes ou está a lutar contra a obesidade também pode beneficiar utilizando esta leguminosa, porque tem carboidratos complexos, ou seja, possuem uma metabolização lenta no organismo. Por também ser rico em fibras, proporciona a sensação de saciedade e só se sente fome bastante mais tarde.
Os pesquisadores destacam ainda que as sementes do grão-de-bico também acumulam mais fitoestrogênios do que as do feijão - substâncias essas que têm uma acção preventiva na osteoporose e em problemas cardiovasculares. Os fitoestrogénios também são usados na reposição hormonal após a menopausa.
Não custa experimentar e utilizar este legume seco nas suas várias refeições, desde fazer uma deliciosa sopa, a saladas quentes ou frias e ainda como acompanhamento de peixe, pasteis, etc.
Viva melhor, viva mais saudável!

Fonte: Leonardo S. Boiteux e Maria Esther de Noronha Fonseca, do
Laboratório de Melhoramento Genético & Análise Genômica do Centro Nacional
de Pesquisa de Hortaliças (CNPH) da Embrapa Hortaliças, em Brasília e ainda da nutricionista baiana Solange Carvalho.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Uma questão de justiça...

Um pobre viajante, bastante fatigado, parou ao fim da manhã para descansar num banquinho junto à estrada.
Ele viera de muito longe e sobrara apenas um pedaço de pão seco para enganar o estômago. Do outro lado da estrada, havia um quiosque com variados e tentadores pães e bolos; o viajante foi-se deliciando ao sentir apenas as fragrâncias adocicadas que flutuavam pelo ar, enquanto mastigava o seu pedacinho de pão seco.Ao levantar-se para seguir de novo o seu caminho, o padeiro subitamente saiu a correr do quiosque, atravessou a estrada e agarrou-o pelos colarinhos.
- Espere aí! - gritou o padeiro. - Você tem que pagar os bolos!
- Quais bolos? - protestou o espantado viajante. - Eu nem toquei nos seus bolos!
- Seu ladrão! - berrava o padeiro. - É perfeitamente óbvio que você aproveitou o seu próprio pão seco bem melhor, só sentindo o cheirinho delicioso da minha padaria. Você não sai daqui enquanto não me pagar pelo que levou. Eu não trabalho à toa não, camarada!
Uma multidão foi-se juntando e então o padeiro furioso pediu para que fosse levado este caso ao juiz local, um velho muito sábio. O juiz ouviu os argumentos, pensou bastante e depois ditou a sentença.
- Você está certo - disse o juíz dirigindo-se ao padeiro. - Este viajante saboreou os frutos do seu trabalho. E julgo que o perfume dos seus pães e bolos, vale pelo menos três moedas de ouro?!
- Isso é um absurdo! - objectou o viajante. - Além disso, gastei todo o meu dinheiro na viagem. Não tenho nem mais um centavo.
- Bom... - disse o juiz. - Neste caso, vou ajudá-lo.Pegou em agumas moedas de ouro do próprio bolso, e o padeiro logo avançou de imediato para as pegar.
- Calma homem, ainda não! - disse suavemente o juíz. - Você diz que este viajante meramente sentiu o cheiro dos seus bolos, não é?
- É isso mesmo! - respondeu o padeiro muito zangado.
- Mas ele não engoliu nem um pedacinho?
- Já lhe disse que não.
- Nem provou sequer um pãozinho?
- Não!
- Nem tocou nas tortas e bolos?
- Não!
- Então, já que ele consumiu apenas o perfume, você será pago apenas com o som do dinheiro. Abra os ouvidos para receber o que você merece.
E o sábio juiz chocalhou as moedas de uma mão para outra, fazendo-as retinir bem perto das gananciosas orelhas do padeiro.
- E pronto! Está pago! Se ao menos você tivesse tido a bondade de ter ajudado este pobre homem na sua viagem - continuou o esperto juiz -, você até ganharia bastantes recompensas em ouro... no Céu! Bom, amigo viajante, pode seguir em paz o seu caminho, pois foi feita a devida justiça.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pontes "vivas" - Índia

As acções dos indivíduos e sociedades estão sempre a gerar necessidades e corremos atrás da tecnologia para melhorar o nosso conforto. Esta insensatez leva-nos a pagar um preço pelo "progresso" desvairado, que é a devastadora destruição do ambiente natural. Quando não há acesso à “civilização”, nem recursos imediatos, veja-se as perspectivas do reino natural que um povo soube aproveitar:

Nas profundezas do nordeste da Índia, num dos lugares mais húmidos da terra, as pontes não são construídas - vão crescendo...
Cresceram das raízes de uma seringueira! O povo de Khasis Cherapunjee betel usou troncos de árvores, cortadas ao meio e ocos por dentro, para criar o "sistema-raízes de orientação."
Quando chegarem ao outro lado do rio, estarão em condições de criarem raízes no solo. Dando tempo suficiente, uma robusta ponte viva é produzida.
As pontes feitas de raízes, algumas das quais com mais de cem metros de comprimento, levaram entre dez a quinze anos para se tornarem totalmente funcionais, sendo extremamente fortes. Algumas podem suportar o peso de 50 ou mais pessoas ao mesmo tempo.
Uma das estruturas de raízes mais original da Cherrapunjee, é conhecida por "Umshiang Double Decker-Root Bridge". É composta por duas pontes sobrepostas!Porque as pontes estão vivas e ainda a crescer, ganham força ao longo do tempo e algumas das pontes-raízes antigas ainda são usadas diariamente pelo povo das aldeias à volta de Cherrapunjee, que podem ter bem mais de 500 anos.Mas não são estas as únicas pontes construídas a partir de plantas em crescimento.O Japão também tem a sua própria forma de pontes-vivas.
Estas são as pontes da Vinha Vale de Iya .....
Um dos três "vales escondidos do Japão" , West Iya, é um desfiladeiro cheio de neblina, rios claros e telhados de colmo, este é o Japão de séculos atrás. Para atravessar o rio Iya, num vale com terreno áspero, bandidos, guerreiros e refugiados criaram algo de muito especial e bastante instável - a ponte feita de vinhas.Este é um quadro que data de 1880 e que mostra uma das pontes de videira original.Primeiro, duas vinhas Wisteria - uma das mais fortes vinhas conhecidas - foram cultivadas nos extremos dos dois lados do rio. Quando as videiras alcançaram comprimento suficiente, foram entrelaçadas com tábuas para criar uma flexível, durável e, a mais importante obra viva da engenharia botânica.As pontes não tinham protecção lateral, e uma fonte histórica japonesa diz que as pontes de videira originais eram tão instáveis que os que tentavam atravessá-las pela primeira vez, muitas vezes ficavam petrificados no lugar, incapazes de prosseguir.
Três dessas pontes permanecem ainda no Vale de Iya.
Enquanto algumas dessas pontes (embora aparentemente não tivessem sido todas) foram reforçadas com fio e grades, mas ainda são angustiantes de atravessar. Mais de 140 metros de comprimento, com pranchas colocadas com cerca de 30 a 40 cm de distância entre si.... definitivamente não são para acrofóbicos.Acredita-se que as pontes de videira existentes foram inicialmente cultivadas no século XII, o que as tornaria, nos mais antigos exemplos de arquitectura viva no mundo.
Os homens, aliados à Natureza, demonstraram assim que podem e devem fazer coisas fantásticas com os recursos naturais.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Três filhas da China

Recebi alguns emails de pessoas amigas que me pedem para publicar mais curiosidades sobre a China, mas, para entender um pouco mais este país, é essencial conhecer também um pouco da sua milenar cultura.
Uma obra fundamental que recomendo vivamente é o livro “Cisnes Selvagens" - Três Filhas da China, da autoria de Jung Chang, que faz uma grande reportagem sobre a China, tendo como fio condutor a trajectória da sua própria família.
Quando a avó nasceu, em 1909, a China vivia sob o império da dinastia Machu, logo derrubada para dar lugar à República.
Quando nasce o pai, em 1921, o Kuomintang preparava-se para tomar o poder, o que ocorre em 1927, sob o comando de Chang Kai-chek, que instaura então um governo burguês e esmaga com sangue a primeira tentativa da revolução socialista na China.
O livro foi escrito em 1990 e lançado em 2000 e conta a história de três gerações de mulheres chinesas: Yu-fang, avó de Jung Chang (nascida em 1909), De-hong, mãe de Jung Chang (nascida em 1931) e da própria Jung Chang (nascida em 1952).
O livro é de uma grande riqueza descritiva, que nos transporta ao dia-a-dia do povo chinês, dias dificeis de trabalho duro braçal, mas apesar de tudo, falam dos seus sonhos, das alegrias e das tristezas.
Descreve, sobretudo, a dura vida de opressão das mulheres, vítimas de costumes ancestrais, que só começaram a ser lentamente transformados com a revolução socialista de 1949. Mas a burocracia e depois a restauração do capitalismo na China, fizeram com que o processo de emancipação das mulheres chinesas, iniciado com a revolução, fosse depois interrompido e muitas dessas conquistas foram perdidas.

Quando a mãe nasce em 1931, o Japão invade a Manchúria e em 1937 ataca a China interior. O Partido Comunista, orientado por Stalin, alia-se ao Kuomintang. Em 1946, explode a guerra civil entre os comunistas e o exército de Chang Kai-chek. O pai de Jung Chang integra-se numa unidade de guerrilheiros comunistas da região de Chaoyang. A mãe torna-se líder estudantil e junta-se aos comunistas na clandestinidade.

Em 1949, ao mesmo tempo em que é proclamada a República Popular da China, com a vitória do exército de Mao Tsé-tung, os pais casam-se. Tem início então a reforma agrária e, em 1950, a China entra na Guerra da Coreia. Em 1951,a mãe é líder da Liga da Juventude de Yibin e, no ano seguinte, nasce ela, Jung Chang. A mãe e o pai eram nessa altura chefes do Departamento de Assuntos Públicos e, como milhões de chineses daquela época, foram vítimas de perseguições pela burocracia do Partido Comunista. Todo aquele que fazia qualquer tipo de crítica ao regime era considerado contra-revolucionário. O pai perde o emprego, a mãe é presa, e libertada mais tarde, em 1956.Em 1966, começa a Revolução Cultural e o pai de Jung Chang é preso. A mãe vai a Pequim apelar para a sua libertação e consegue que o marido saia em liberdade. Jung Chang junta-se aos Guardas Vermelhos, mas, quando os seus pais são novamente presos e torturados, em 1967, ela rompe com os Guardas Vermelhos. Novamente acusados de contra-revolucionários, os pais são mandados para campos de trabalhos forçados e Jung Chang é exilada em Ningnan.
Trabalha como camponesa em Deyang, e, de volta a Chengdu, a sua cidade natal, torna-se trabalhadora metalúrgica e electricista.

Em 1972, Nixon visita a China e tornando-se assim um símbolo da abertura chinesa ao Ocidente. O pai de Jung Chang sai da prisão, muito doente, e morre dois anos depois. Em 1977, Jung Chang entra na universidade e no ano seguinte ganha uma bolsa de estudos e vai estudar para Inglaterra, onde vive até hoje. Nessa época, Deng Xiaoping, o Gorbachev chinês, já estava de volta ao poder e, com ele, a política de restauração do capitalismo no seu país.
Foram anos extremos para a China. Depois de ter vivido o inferno, vive a alegria de receber os comunistas e a revolução socialista, e novamente vem a amargura e o sofrimento impostos pela política stalinista, com perseguições sobre todos os suspeitos, era usada a cultura da desmoralização sobre um povo cioso de seu carácter e das suas crenças, os requintes de crueldade que alimentaram as grandes revoltas contra a ditadura e finalmente o processo de restauração do capitalismo.
Pés enfaixados

Tudo isto foi vivido pela família de Jung Chang com muita intensidade. Ela descreve cada facto, sempre relacionado ao contexto político, mas as mulheres são as principais personagens, onde não escapa uma referência aos "pés de lótus".
Com apenas quinze anos, a avó tornou-se concubina de um caudilho militar. Corria então o ano de 1924 e a China estava mergulhada no caos. Em grande parte do território, incluindo a Manchúria, onde vivia a sua avó, o poder era exercido por chefes militares, conhecidos como “os senhores da guerra”.
De acordo com o tradícional costume, o seu bisavô casou cedo, aos catorze anos, com uma mulher seis anos mais velha. Considerava-se que, uma das obrigações da esposa era ajudar a criar o marido. Como milhões de mulheres chinesas na época, entre elas, a sua bisavó, nem sequer teve um nome (só os homens recebiam nomes), e como era a segunda filha, tratavam-na simplesmente por “Rapariga número dois” (Er-ya-tou).

Em 1909, ela tem uma filha, que já nasceu em melhores condições que a mãe, pois deram-lhe um nome: Yu-fang. Mas nem por isso escapou a um dos costumes mais cruéis contra as mulheres: os pés enfaixados, que em chinês tem o nome de “lírios dourados com oito centímetros” (san-tsun-gin-lian).

Jung Chang: conta: - “Tinha a minha avó dois anos quando lhe enfaixaram os pés. A mãe, que também tinha os pés enfaixados, começou por enrolar-lhe à volta dos pés uma tira de pano com cerca de seis metros de comprimento, dobrando todos os dedos, com excepção do grande, para dentro e para debaixo da planta do pé. Depois colocou uma grande pedra em cima, para esmagar o arco. A minha avó gritou de dor e suplicou-lhe que parasse, e a mãe teve de meter-lhe um pano na boca, para amordaçá-la. A infeliz desmaiou diversas vezes, devido à dor. O processo demorava anos. Mesmo depois dos ossos terem sido partidos, os pés tinham de continuar enfaixados, dia e noite, em tiras de pano, pois, no momento em que fossem libertados, tentariam recuperar a sua forma. Durante anos, a minha avó viveu cheia de dores terríveis e constantes”.
Foi o que aconteceu com a mãe e milhares de mulheres chinesas que aderiram à revolução e lutaram até o fim pelos seus sonhos. Daí o nome do livro, “Cisnes Selvagens”.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A MULHER NA CHINA - Pés de Lótus

O que hoje nos horroriza ao tomarmos conhecimento da existência dos “pés enfaixados”, ou “lótus de ouro”, que as mulheres na China suportavam, foi um costume adaptado desde o início do século X.
Uma das versões apontadas para a existência desta prática, foi que, um imperador nos finais do século IX, ficou encantado por ver uma concubina com os pés muito pequenos, dançar sobre um palco em forma de flor de lótus, onde passou a derivar esse nome às mulheres chinesas que passaram a deformar os seus pés.Outras fontes dizem que o nome se refere ao formato dos pés – que ficam curvados para cima, em forma de “lótus”, depois de anos e anos enfaixados com ligaduras apertadas o suficiente para quebrar os ossos, arqueando o pé e interrompendo assim o seu crescimento.
Começavam a ser enfaixadas a partir dos cinco ou seis anos, uma tradição passada de mãe para filha cujo processo era torturante, porque as ligaduras dobravam os quatro dedos menores até a sola dos pés e forçavam o calcanhar para dentro, exagerando o arco.
A carne apodrecia e as crianças choravam em agonia, incapazes de comer, beber ou pensar devido à dor, mas as mães faziam-no a pensar no futuro das filhas, porque nessa época, se não tivessem os pés pequenos, não arranjavam um bom casamento, uma vez que as mulheres de “pés de lótus” eram as preferidas pelos senhores de negócios, que se orgulhavam de possuir em sua casa, um “exemplar” tão cobiçado.
Famílias pobres viam neste processo a possibilidade de conseguir uma vida melhor para as filhas, para demonstrar valor e o status.
O que é facto, é que muitos chineses dessa época achavam os “pés de lótus” muito eróticos, considerados a parte mais íntima da anatomia da mulher.Um pé enfaixado com sucesso, tinha de 7cm a 10cm. Andar era difícil: as mulheres oscilavam de um lado para o outro, o que também evocava a imagem da flor de lótus ao vento…
Estas mulheres não podiam fazer uma vida normal, porque não conseguiam andar sem ajuda, a não ser que se arrastassem. Tinham de ter alguém que as ajudassem a cuidar dos afazeres domésticos e que as ajudassem também a tratar das crianças.
Banquinhos eram colocados pela casa para que elas se movessem sem ter de pisar o chão, ou teriam de andar sobre os joelhos, com inchaços e bolhas de proporções excruciantes. O lazer de muitas destas mulheres era criar e bordar sapatos que elaboravam para si mesmas. A habilidade para decorar esta deformidade fazia parte da "arte" daquela época.
Durante última dinastia chinesa Qing, tentaram banir esta prática, mas ela estava tão enraizada, que não surtiu qualquer efeito e as mães de família continuaram a enfaixar os pés das suas filhas, na esperança de lhes assegurar o futuro através do casamento com um homem rico. Este costume só foi abolido em definitivo, quando os comunistas tomaram o poder em 1949.As mulheres que viveram desde crianças com os seus pés atados, apesar das suas histórias do martírio e da dor que envolveu o enfaixe dos pés, sentem porém um grande orgulho por terem atingido a beleza imposta pela sociedade e pelos homens, que as admiravam naquela sua deformidade pois, com os pés enfaixados, a mulher caminhava de forma vacilante, o que, segundo a crença, tinha um efeito erótico nos homens, sobretudo porque ela parecia vulnerável e despertava neles um impulso protector.
Repentinamente e com a reforma comunista, estas mulheres passaram a ser objecto de escárnio, tornando-se a ser tão repulsivo, quanto ridicularizado esse seu andar.Hoje, olhando para estes sapatinhos na palma da mão, de tão incrível pequeneza que desafiam a descrição e fico a pensar, quanto sofrimento foi preciso para um pé humano ficar naquele tamanho? Quanto sofrimento foi preciso para estas mulheres agradarem e, essencialmente, para sobreviver, sacrificando-se assim à diferença... Pese a sua opressão secular, as mulheres chinesas traziam no peito a revolta, a coragem e uma imensa capacidade de lutar para transformar a vida.
Um poema do começo da dinastia Song, do poeta e político Su Shi, que viveu de 1036 a 1101, exalta as beldades dos pés enfaixados, mas reconhece a sua dor:

"Ungida com fragrância, ela tem passos de lótus;
Ainda sempre triste, caminha com rápida leveza.
Ela dança como o vento, sem deixar vestígios
Outra furtiva, mas alegre, veste-se ao estilo do palácio,
Mas sente tal sofrimento no andar!"

Apesar deste costume parecer cruel e bárbaro para o pensamento moderno, estudiosos lembram que, no Ocidente, algumas mulheres compram sapatos muito pequenos para parecerem mais atraentes e sujeitam-se a usar saltos bastante altos para ficarem mais elegantes.
Traduzido e adaptado da FONTE:http://www.anomalies-unlimited.com

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mulheres do Paquistão

Infelizmente nem sempre há lindas fotos a ornamentar o meu blog. Certas atrocidades têm de ser denunciadas e hoje, estou do lado destas mulheres, que sofrem as mais duras injustiças, sem que algum país, (mesmo os que se dizem "civilizados" que metem o nariz nos assuntos que lhes dêem lucros), levante um dedo para as ajudar!
Os rostos destas mulheres foram mutilados com ácido, e este é o trabalho dos imbecis, que se acham homens e fazem "justiça" pelas suas próprias mãos, porque sabem que ficam impunes aos actos mais sórdidos, às vinganças mais mesquinhas.
Esta é a estranha forma de resolver os problemas (ou vingança) no Paquistão...
Nesta primeira foto, temos Irum Saeed, de 30 anos, que posa para uma fotografia no seu escritório na Universidade Urdu, de Islamabad, Paquistão, quinta-feira, 24 julho, 2008. Irum foi queimada no rosto, costas e ombros há doze anos, quando um rapaz a quem ela rejeitou o seu pedido de casamento, lhe atirou com ácido sobre ela no meio da rua. Ela foi submetida a 25 cirurgias plásticas para tentar recuperar-se dessas cicatrizes. Mas o rapaz nunca foi "incomodado"...
Shameem Akhter, de 18 anos, posa para uma fotografia em sua casa, em Jhang, Paquistão, Julho, 2008.
Shameem foi violada por três rapazes que depois de se "divertirem", lhe atiraram com ácido. Shameem foi submetida a cirurgias plásticas 10 vezes para tentar limpar as suas cicatrizes. Possivelmente os rapazes que fizeram isto, devem de momento continuar a "divertir-se"...

Najaf Sultana, 16 anos, posa para uma fotografia em sua casa em Lahore, Paquistão, em Julho, 2008. Com a idade de cinco anos, Najaf foi queimada pelo próprio pai, enquanto ela estava a dormir, aparentemente porque ele não se conformava, porque ela tinha nascido menina e ele queria um rapaz. Como resultado dessa atrocidade, Najaf ficou cega! Após este incidente, foi abandonada pelos pais (que como é obvio, ficaram impunes) e assim teve de ir morar com uns parentes. Também foi submetida a 15 cirurgias plásticas para tentar dar-lhe um rosto decente. Shahnaz Bibi, 35 anos, posa para uma fotografia em Lahore, Paquistão, Outubro, 2008. Dez anos atrás, Shahnaz foi queimada com ácido por um parente devido a uma disputa familiar. Ela nunca passou por nenhuma cirurgia plástica.Kanwal Kayum, 26 anos, ajusta o véu com que ela posa para uma fotografia em Lahore, Paquistão, Outubro, 2008. Kanwal foi queimada com ácido no ano anterior a esta foto, por um rapaz a quem ela rejeitou o seu pedido de casamento. Ela também nunca passou por nenhuma cirurgia plásticaMunira Asef, 23 anos, posa para uma fotografia em Lahore, Paquistão, Outubro, 2008. Munira foi queimada com ácido, há cinco anos por um jovem a quem ela rejeitara o seu pedido de casamento. Munira foi submetida a cirurgias plásticas 7 vezes para tentar recuperar-se das suas cicatrizes. MEMUNA Khan, 21 anos, posa para uma fotografia em Karachi, no Paquistão, Dezembro, 2008. Menuna foi queimada por um grupo de rapazes, que lhe atiraram com ácido para resolver uma disputa entre os seus familiares e a própria Menuna. Ela passou por 21 cirurgias plásticas. Zainab Bibi, 17 anos, ajusta o véu e posa para uma fotografia em Islamabad, Paquistão, Dezembro, 2008. Zainab foi queimada no rosto com ácido atirado por um jovem a quem ela rejeitou o pedido de casamento há cinco anos. Ela foi submetida a cirurgias plásticas várias vezes para tentar recuperar um pouco do seu antigo rosto.
Naila Farhat, 19 anos, posa para uma fotografia em Islamabad, Paquistão, Dezembro, 2008. Naila foi queimada em pleno rosto com ácido jogado por um jovem a quem ela rejeitou o pedido de casamento três anos antes. Ela foi submetida a várias cirurgias plásticas. Saira Liaqat, 26 anos, posa para esta foto e mostra uma fotografia sua, antes de ser queimada, na sua casa em Lahore, Paquistão, Julho, 2008. Quando ela tinha quinze anos, Saira vivia com um parente que mais tarde iria atacá-la com ácido, depois de insistentemente ter exigindo que ela fosse viver com ele para outra cidade.
As respectivas famílias tinham concordado que ela não iria acompanhá-lo até que terminasse os seus estudos, mas ele não se conformou com a nega e atirou-lhe ácido para "recordação".
Saira foi submetida a 9 cirurgias plásticas sem grandes resultados...


Estas são apenas 10 fotos das 30 que foram publicadas numa reportagem jornalistica em 2008, no Paquistão, numa tentativa de alertar a opinião pública para esta selvejaria.
Muitas mais mulheres estão mutiladas e são obrigadas a silenciar estas práticas sob pena de mais represálias, num país de fanáticos e quantas mais vão sendo queimadas, assassinadas, mutiladas, sem que ninguém se importe com isso?
Embora estes casos sejam denunciados e publicados, os anos passam, e as barbaridades continuam a ser feitas com impunidade. Até quando?
FONTE:
http://www.funzug.com/index.php/funzug-mails/-acid-terrorism-against-women-in-pakistan.html