quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A mendiga


Ali sentada, a chuva batia-lhe forte no chapéu, nas costas e nos seus parcos haveres.
Nunca tinha saído daquela vila encravada entre montanhas, que aos poucos crescera e se tornara cidade.
Já tinha tido uma vida de várias cores, agora ela não passava de um cinzento desfocado e os sons, de uma linguagem que mal compreendia.
Não se lembra ao certo quando a despojaram da sua casa, onde andavam os filhos que tinham emigrado cedo e nem sabiam se ela estava viva. Mas...quem fora ela?
Apenas restavam os sacos que continham tudo o que agora possuía, que era nada…
Quando a barriga trinava de fome, sempre encontrava em algum desses sacos, uma côdea dada por alguém, num lugar qualquer, com que apaziguava aquele apertar de saudade, por uma refeição quente.
Os sentimentos eram já confusos, alegria, tristeza, angustia, contentamento, nem sequer percebia o que sentia… só o frio naquelas noites em que o chão luzia de molhado, lhe provocava uma arrelia grande, tão grande, que saía por essa cidade fora, aos tropeções, vociferando e praguejando para os fantasmas imaginários, até o sol lhe aquecer as carnes flácidas e arrepiadas.
Tinha apenas uma ambição e uma esperança: encontrar alguém que lhe sorrisse, lhe desse a mão e a levasse a ver aquela “coisa” infinita, que tanto ouvia falar, a que chamavam Mar!

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