segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A sopa amarela

Há certas ocasiões em que é difícil encontrar um lugar para comer diariamente perto do nosso emprego. Esta é a história de um homem que reencontrou esse lugar e recuperou a sua vida.

José, durante quatro anos, ia comer sempre ao mesmo restaurante. Era um desses sítios baratos, de menu único e constante, cujo prémio era a comodidade de não ter que decidir todos os dias o que comer.
Há estômagos que não procuram nada de especial para comer e o dele, era um deles.
Durante esses quatro anos, comia todos os dias o primeiro prato de sopa da casa, um caldo amarelo e confuso, em que navegavam com pouca segurança, algumas massas.

Um dia, foi anunciado que aquele estabelecimento ia fechar. Então, ele foi fazer a triste despedida, sorvendo a última sopa, comendo o último bife e agradecendo o brinde dorido do dono da tasca, com algo parecido a um espumante. Uma estranha pena dominou o seu humor e sentiu uma ligeira angústia a apertar-lhe o estômago.
Nunca tinha sentido nas suas solitárias refeições, nenhuma empatia com os outros frequentadores da tasquinha, nem com o dono, nem com os empregados, nem com a Rosalina, a cozinheira, que viu pela primeira vez, naquele dia do encerramento.
Os meses seguintes foram terríveis para o seu estômago e para o seu equilíbrio emocional, pois percebeu que entre um e o outro, havia uma estranha correspondência.
Ia experimentando um ou outro restaurante, entrava em novas tascas com a esperança renovada de acertar no menu, mas sentia que nada o satisfazia e que a sua vida andava à deriva, recordando com saudade a sopa amarela da antiga tasquinha.
Aquela saudade ia crescendo de tal forma, que já lhe afectava o sono e os sonhos. Começou a levar uma vida sem rumo, sentia-se doente e desinteressado de tudo.
Certo dia, ao sair do emprego, foi vagueando sem sentido, como fazia para distrair as ideias e os gritos do estômago que, quando reclamava mais alto, entrava então num lugar qualquer para ingerir qualquer coisa que o calasse. E, foi ao entrar num pequeno restaurante, que teve a maior e a mais grata surpresa, ao encontrar ali os antigos comensais da sopa amarela, da saudosa tasquinha.
Rosalina é hoje a sua mulher, e foi-lhe devolvido o seu equilíbrio emocional...

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