segunda-feira, 7 de maio de 2012

O 1.º de Maio e o Pingo Doce

Este ano o feriado 1.º de Maio, foi diferente para milhares de portugueses que decidiram aproveitar a promoção limitada a esse dia, do Pingo Doce.
Quem fizesse compras no supermercado Jerónimo Martins (JM) com valor superior a 100 €, teria um desconto de 50%. E a campanha estendeu-se a todos os estabelecimentos do continente e arquipélago da Madeira, gerando a maior das confusões que os média não se cansaram de registar em todas as noticiários e jornais: filas de pessoas que foram às 4 da manhã para a porta desses supermercados, produtos caídos no chão, carrinhos esgotados, incidentes, cenas de pancadaria, polícia de choque e, em algumas lojas, prateleiras vazias, saque de produtos alimentares, etc, etc.

A jogada Pingo Doce - (Marketing para que te quero)
O Pingo Doce deve ter arrecadado à volta de 90 milhões de euros em poucas horas, em capitalização de produtos armazenados.
De onde saiu o dinheiro: algum do bolso, mas grande parte saiu das contas bancárias por intermédio de cartões. Logo, os bancos vão acusar a saída de tanto dinheiro em tão pouco espaço de tempo, no principio do mês, em que os bancos contam com esse dinheiro nas contas, para se organizarem com ele. Mas, ainda ganham algum porque alguns compraram a crédito.
Ora, se o Pingo Doce pedisse esse dinheiro à Banca iria pagar, digamos a 5%, em 5 anos, 25% da quantia. Assim não paga nada. O povo deu-lhe boa parte do seu ordenado, a troco de géneros. Alguns vão ver-se à rasca porque com arroz não se paga a electricidade.
O resto, 75% da quantia aparentemente "oferecida", distribuiu-se assim:

1 - Uma parte dos produtos (talvez 20 a 25%), devem estar a chegar ao fim do prazo de validade. Teriam de ser amortizados como perdas e lançados ao lixo. Enquanto não fosse lixo seria material que entraria como existência, logo considerado como ganho e sujeito a impostos. Assim poupam-se impostos, despesas de armazenamento (logística, energia, pessoal) e o povinho acartou o lixo futuro.

2 - Outra parte (10 -15%) seria vendida com os habituais descontos de ocasião e as promoções diárias. Uma parte foi ainda vendida com lucro, apesar do "desconto".

3 - O Pingo Doce prescinde ainda de 30 a 40 % do que seria lucro por motivos de estratégia empresarial a saber:
4 - Descartar-se da concorrência das pequenas empresas. Quem comprou para dois meses, não vai às compras nesse mesmo tempo.

5 - Aumentar a clientela que agora simpatiza com a cadeia "benfeitora".

6 - Criar uma situação de monopólio ao fazer pressão sobre os preços dos produtores (que estão à rasca e muitos são espanhóis) para repor os novos stocks em grande quantidade.

7 - Transpor já para euros parte do capital parado em armazém e levá-lo do país uma vez que a Sede da Empresa está na Holanda. Não vá o diabo tecê-las e isto voltar ao escudo nos próximos tempos o que levou já J. Martins a passar a empresa para a Holanda.

8 - Diminuir com isto o investimento em Portugal, encurtar a oferta de produtos, desfazer-se de algum armazém central e com isso despedir alguns funcionários. O consumo vai diminuir no futuro e o Estado quer "imposto de higiene" pago ao metro quadrado.

9 - Poupança em todo o sistema administrativo e em publicidade. A comunicação social trabalhou para eles.

Mesmo que tudo fosse ilegal, a multa máxima para Dumping é de 15 a 30.000 Euros, para o resto, não há medidas jurídicas. Verdadeiramente isto são "Peanuts" em sacos de Pingo Doce, empresa do homem mais rico de Portugal.
A ASAE irá só apresentar serviço...
Nada obrigava a Jerónimo Martins a fazer esta promoção precisamente neste dia, um dia dedicado aos trabalhadores, que vêm para a rua gritar os seus protestos e exigirem os seus direitos, cada vez menores, cada vez mais longínquos.
Mas a pobreza tem mais força que a repressão. Enquanto as pessoas lutam para comer, não lutam por direitos. Nenhuma ditadura conseguia resumir um dia de resistência, àquelas imagens degradantes.
O que ficará do 1.º de Maio de 2012 em Portugal é isto: um povo a esbofetear-se por um desconto em comida. Uma empresa que é incapaz de compreender qualquer ideia que se assemelhe a "dignidade". Um poder político que nos atirou para este humilhante retrato terceiro mundista.


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