terça-feira, 15 de maio de 2012

Um estranho em minha casa...

Eu tinha sete anos quando o meu pai conheceu um estranho, recém-chegado à
nossa pequena cidade. Logo de princípio, o meu pai ficou fascinado com esse encantador personagem, e em seguida convidou-o a viver com a nossa família.
O estranho aceitou e desde então tem estado connosco.
Enquanto eu e os meus irmãos crescíamos, nunca perguntei nada sobre o seu lugar na minha família, uma vez que na minha jovem mente, ele já tinha um lugar muito especial.

Os meus pais eram os nossos instrutores complementares: a minha mãe ensinou-nos o que era bom e o que era mau, e o meu pai ensinou-nos a obedecer.

Mas o estranho era o nosso narrador. Mantinha-nos enfeitiçados durante horas e horas, com aventuras, mistérios e comédias. Ele tinha sempre respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber sobre política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro! Levou a minha família ao primeiro jogo de futebol. Fazia-nos rir, ou chorar.

O estranho nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava e dava-lhe toda a sua atenção. E nós também...
O nosso pai sempre dirigiu o lar com certas convicções morais, mas o estranho nunca se sentia obrigado a honrá-las e foi-nos mostrando que havia outras cidades maravilhoas, pessoas mais libertas de preconceitos, outras religiões e culturas tão diferentes da nossa, enfim, um mundo cheio de novidades, que não nos deixava indiferentes e passávamos os nossos serões e todo o tempo disponível a vê-lo e a ouvi-lo.
Passaram-se mais de 50 anos desde que o estranho veio para a nossa família.
Desde então, mudou muito; já não é tão fascinante como era ao princípio, mas agora, mais que nunca, ele tem uma importância que mudou não só a minha família, como as famílias do mundo inteiro.

O seu nome? Nós chamamos-lhe "Televisão". Arranjou uma esposa que se chama "Computador" e um filho que se chama "Telemóvel", agora apareceram os netos IPOD, IPED...





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