terça-feira, 25 de agosto de 2009

A Burka


Todos os dias agradeço aos deuses e à divina providência por não ter nascido no Paquistão, ou em áreas próximas à fronteira com o Afeganistão. Sempre que se me deparam histórias, fotos, noticias sobre a forma como as mulheres destes países são tratadas, pergunto-me: em pleno século XXI, como é possível?
Para além de usarem a famosa burka, (veste feminina que cobre todo o corpo, até ao rosto e aos olhos, conforma mostra a foto, e imposta pelo governo destes países), as mulheres afegãs estão proibidas de passear sozinhas pelas ruas, trabalhar, estudar, de receber assistência médica, excepto em hospitais sem recursos, ou seja, sem água, sem luz, sem sala de cirurgia, onde normalmente estas pacientes acabam por morrer por falta de recursos.
Quando uma mulher está grávida, dizem que ela está enferma.
A maioria dá à luz em casa, ajudada por outras mulheres, pois estão proibidas de receber assistência nos hospitais.
O adultério é penalizado com a lapidação, ou seja, a mulher é metida num buraco cavado no solo e tapada com terra até ao tórax.
Os homens vão-lhe atirando com pedras, até a matar. As pedras não devem ser muito grandes para não lhe causar uma morte rápida, e não tão pequenas que não a firam e a façam sofrer durante horas e horas.
Mas o porquê dos véus e de toda esta ferocidade para com a mulher?

No artigo que se segue, de Yasmin Anukit, retirado do site da Comunidade Islâmica, podemos acompanhar os três grandes momentos do uso do véu islâmico para os islâmicos: a sua introdução, como reafirmação da mulher islâmica entre as mulheres de outras religiões monoteístas que também cobriam a cabeça (afirmação de uma identidade positiva da mulher islâmica); a subversão deste papel pelos fundamentalistas (negação e submissão da mulher na sociedade islâmica) e finalmente na actualidade, como uma reafirmação da identidade cultural da mulher islâmica no mundo ocidental).

Entretanto, hoje em dia, esta questão reverte-se, pois muitas mulheres muçulmanas passaram a reivindicar o uso do véu, tanto no Oriente Médio, quanto na Europa, como uma afirmação da sua identidade religiosa e como um acto de resistência cultural.

O véu foi originalmente introduzido nas antigas civilizações da Pérsia e da Mesopotâmia e mais tarde, na cultura greco-romana. Caracterizava o sta- tus feminino elevado, conferindo-lhe uma certa inacessibilidade.
Habitual entre as mulheres judias, tornou-se, também, uma referência das damas cristãs em Bizâncio e na Idade Média ocidental. O Profeta Mohammad (s.a.w.) instituiu o uso do véu no século VI, na Arábia, para que as muçulmanas também gozassem da mesma dignidade das demais seguidoras entre os povos do Livro, isto é, da Torá e do Evangelho. Deste modo, numa época selvagem e belicosa, onde a lei mal se delineava, o véu era uma salvaguarda. Porém, mais do que isso, o seu uso simbolizava a elevação espiritual da condição feminina, assim como o turbante concedia aos homens a sacralização da cabeça. O Islão pretendeu, através do sacerdócio universal, estender a toda a Ummah (Comunidade) uma vestimenta que tornasse os fiéis iguais diante de Deus.

Portanto, o uso do véu nunca designou a submissão feminina, embora uma política gradualmente machista – muito distante da época em que as mulheres muçulmanas cavalgavam e guerreavam ao lado dos homens – refreou as suas liberdades e, na mesma medida, o seu rosto foi se tornando anónimo. Com o tempo, o véu - burkas, xadors e abayas - veio a cair nas mãos de uma intolerância patriarcal cada vez maior, tornando-se motivo de apologia entre os fundamentalistas: wahabbitas da Arábia Saudita, radicais xiitas do Irã pós-Khomeíni, talibãs afegãos e guerrilheiros do Hamas, na Palestina. Para estes, o véu se tornara uma arma de contrôle e exclusão da mulher, privada de escolha quanto à sua própria indumentária. Países como o Iraque e o Líbano, nas últimas décadas, promoveram uma progressiva libertação do corpo feminino e dos seus costumes.

Em nome do "respeito pela diferença" aparece, então, uma nítida tendência a cair numa espécie de "clausura na diferenciação absoluta", que permite entender qualquer disfunção como o produto dessa religião que "permaneceu arcaica", uma vez que "o mundo deles" não é como "o nosso mundo"... Essa religião continua a encarnar "um outro mundo".
Aceitar a clausura dentro de um pano preto, talvez não seja um sinal de respeito pelo islamismo; pelo contrário, será perpectuar os estereótipos que alimentam a intolerância e a liberdade de um ser humano, neste caso, a mulher!

UMA HISTÓRIA POR DETRÁS DAS BURKAS:


Masuda Sultan, nascida no Afeganistão e hoje naturalizada americana, resolveu contar pequenas histórias da sua vida para tentar explicar os conflitos da sua terra natal. O livro “Minha Guerra Particular” (ed. Nova Fronteira), é o resultado dessa decisão. Os relatos detalhados de Masuda, mostram a dificuldade de se viver dividida entre a cultura islâmica e a americana, tão diferentes e divergentes.
A escritora tornou-se reconhecida mundialmente na sua luta pelos direitos das suas compatriotas e pelas suas histórias. O livro começa com o relato do matrimónio arranjado pelos seus pais, quando ela tinha apenas 16 anos.
Ela conta que o marido, mais velho, conversava apenas com os pais dela, sem nunca perguntar pela esposa, atitude educada, segundo a cultura afegã. Situações estranhas para a maioria dos ocidentais, que não estão preparados para assistir à vida das mulheres tapadas pelas burkas.
Masuda Sultan surpreende a cada novo relato do livro. A não perder, para quem queira saber mais sobre o assunto!
Livros, Ásia.

8 comentários:

Anónimo disse...

O castigo é a "lapidação", não a "depilação" :-)

Cumprimentos!

Irene Fernandes Abreu disse...

Pois é verdade. Escapou-me... Muito obrigada pela preciosa correcção! Cumprimentos.

Anónimo disse...

Quando vejo estas coisas, fico enervada! Como pode haver tal descriminação em seres humanos? Como mulher, repudio os países/governantes que reprimem as mulheres em nome da religião, sendo eles os principais prevaricadores.
Ana

Cristina Fernandes disse...

Gostei de ler este seu post, é mais um grito de alerta neste mundo, por vezes, alienado.
Parabéns
Chris

Anónimo disse...

Ah meninas, então não li que esses desgraçados são homossexuais e pedófilos? Dizem eles que é crime e pecado, então que explicação dão ao Bacha bereesh... (?)adolescentes que eles se servem, vivem com eles, dançam para eles vestidos de mulher, etc, etc HIPÓCRITAS!!!!

Anónimo disse...

Boa! Acho que deveria também ser escrito algo sobre esse tema. Será que os "mandões" deste planeta, não podem meter cobro a estes fanáticos duma figa?

Anónimo disse...

Vim de férias e vejo que tens andado atarefada. Gostei muto de ler sobre as burkas. Que coisa terrivel. Beijinhos
Sissi

Unknown disse...

É verdade que os fanatismos, venham eles de onde vierem nunca trouxeram nada de bom para a Humanidade, e esta é mais uma dessas provas.
Bjs