quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Qual é o preço da beleza?


Naquela manhã em Nova Iorque, seria uma manhã como outra qualquer, se não fosse um sujeito que desce numa estação do Metro, vestindo umas jeans, camisola e boné, encosta-se na entrada, tira o violino de uma caixa e começa a tocar com entusiasmo. Durante 45 minutos que ali esteve a tocar, foi completamente ignorado pela multidão que passava por ali àquela hora matinal, dirigindo-se apressados para os seus empregos e outras tarefas.Ninguém sabia, mas o músico era nem mais que Joshua Bell, um dos violinistas mais bem pagos do mundo, que estava ali a executar peças musicais consagradas num raríssimo instrumento: um “Stradivarius” de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Toda esta encenação foi uma experiência realizada pelo Jornal “The Washington Post”, cujo prepósito era o de lançar o debate sobre “valor, contexto e arte”:

a) Num ambiente comum, a uma hora pouco apropriada, somos capazes de reconhecer a beleza?
b) Paramos para apreciá-la?
c) Podemos reconhecer o talento num contexto inesperado"?
d) Quantas outras coisas excepcionais nos passam despercebidas?

O que é facto, este ensaio no Metro de Nova Iorque gravado em vídeo, mostra centenas de homens e mulheres que ali passavam pelo artista, apressados, sem que ninguém se detivesse a observá-lo e muito menos a ouvi-lo, indiferentes ao belíssimo som do violino.Dias antes, este mesmo ignorado rapaz da estação de Metro, tinha estado a tocar no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custavam 1000 dólares.
Simplesmente porque ninguém o anunciou com a “etiqueta” de luxo, ninguém teve a sensibilidade para “sentir” ou reparar que ali estava a decorrer ARTE!
Esta experiência vem questionar os nossos sentimentos e a nossa apreciação sobre a cultura e a arte. Afinal o que realmente as pessoas gostam e querem? O que apreciam realmente? É o mercado que dita o que usar, ver, vestir ou… ser?
As pessoas são manipuladas consciente ou inconscientemente pelo mercado, pelos mídea e pelas instituições que detêm o poder financeiro? Será que só é valorizado o que tem a etiqueta e o preço da fama?Joshua Bell, quando foi em visita ao Brasil, foi entrevistado pela Revista QUEM, sob o tema “O galã da música clássica”, mas apenas publico estas duas questões que lhe foram postas entre outras e assim podemos tirar algumas elações da personalidade deste jovem e famoso violinista:
Revista QUEM: A revista People elegeu-o, em 2000, uma das 50 pessoas mais bonitas do mundo. Foi importante para você?
JB: Não! (risos). Coisas como essa não significam nada para o que eu faço. Acho que a melhor coisa disso tudo é que é importante que os músicos clássicos façam parte da mídia, porque é bom para a música clássica, de forma geral.
Revista QUEM: Tocaria de novo numa estação de Metro?
JB: Ah, não (risos)! Não é algo que penso repetir tão cedo. Mas acredito que a reportagem escrita sobre isso (que ganhou o Pulitzer, o maior prémio do jornalismo americano, em 2007) foi interessante, porque fez as pessoas pensarem no contexto da música e no que elas vêm e sabem sobre o que está a sua volta. Isso mostra que na música você precisa de um público, de atenção... E participar nessa experiência me fez ter certeza disso.

Este exemplo, é uma lição para que fiquemos mais atentos à manipulação e ao que nos cerca.

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