quarta-feira, 27 de julho de 2011

Crise? Qual crise?

Em todos os meios de informação nacional e internacional, as notícias não são nada animadoras.
Fala-se que a crise económica e social, que se prevê seja prolongada e agravada pelo aumento de impostos sobre os bens e serviços e pela redução de subsídios e outros apoios sociais, a que acresce o aumento previsto do desemprego, pode provocar convulsões sociais em virtude do agravamento das dificuldades económicas e financeiras das famílias.
Porém, desde que cheguei aqui a Portugal, não notei nada de anormal, ou seja, vejo fartura: os cafés estão cheios, os restaurante, incluíndo os mais caros, estão cheios, as viagens para vários destinos nas agências, estão esgotadas, os voos estão lotados, os engarrafamentos automóveis estão na ordem do dia, as lojas estão apinhadas de gente a fazer compras, os supermercados fazem fila nas respectivas caixas, e eu pergunto: crise? Onde?
Estou a lembrar-me daquela fantástica manifestação da “geração à rasca”, que exibiram cartazes onde as queixas mais diversas poliferavam. Acredito que, de facto, possa haver muita gente “à rasca”, sempre houve, mas arregaçavam as mangas e iam à luta, aceitando todo e qualquer trabalho que fosse para ganhar uns tostões extras, eu própria assim fiz, o ordenado mal chegava para a renda de casa e por isso fui fazendo bolos todas as noites, que vendia a colegas e outras pessoas de outras empresas perto da minha, e vendia apartamentos aos fins de semana, nem por isso fiquei menos dignificada.
Neste nmomento oiço as queixas de amigos, cujos filhos não encontram empregos, ou, se os têm, recebem pouco ou as empresas ficam a dever-lhes os salários. Vejo também cartazes nas montras de lojas a pedir empregados que nunca aparecem, pois os cartazes vão-se mantendo nas montras por tempo indeterminado.
Os mesmos amigos lamentam-se que não há ninguém que queira arranjar um cano, faça uma instalação eléctrica ou apareça alguém que queira fazer as limpezas domésticas. Valha-nos as ucranianas…
A verdade é que os filhos de sapateiros, deixaram de ser sapateiros e as filhas das criadas de servir, não querem ser empregadas domésticas, uma realidade positiva. Mas a qualidade da educação não deveria ter sido, como foi, sacrificada.
Um dia destes, foi entrevistado um dos promotores de uma manifestação contra o desemprego. Afinal eram quase todos licenciados em Relações Internacionais. Isto habilita-os a quê? Alguém se deu ao trabalho de olhar o conteúdo destes cursos?
Estão à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. Continuam a querer vestir-se com roupas e sapatos de marca, não andam de transportes públicos e não deixam de frequentar os bares todas as noites.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca, são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens, como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Alguns têm pais que fizeram sacrifícios para os mandar para a universidade, outros provêm de famílias das classes médias, com relações políticas, outros ainda nasceram nos berços de oiro, há muito na posse dos antepassados.
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Temos uma geração que colecciona diplomas, com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional. Esses mesmos pais agora com reformas mirradas ou no desemprego, não sabem como desenrascar os filhos que lhe ficaram em casa até aos trinta e tal anos, pois habituaram-se a ter tudo de mão beijada.
Se há crise, ela vai ser esquecida ao mergulhar a atenção num jogo de futebol, nas compras, ou numa cervejaria com os amigos.
No "antigamente", Salazar sabia distrair-nos com o ópio do povo, conhecido pelos três "F's" (futebol, fado e Fátima). Aparentemente, a herança continua a surtir os seus resultados, parece que as distrações pouco variaram...
Portugal mudou muito e rapidamente. Numas coisas para melhor, noutras para pior. Com o 25 de Abril, deixámos de estar envolvidos numa guerra colonial, ganhámos as liberdades fundamentais e entrámos numa Europa, que dantes ficava para além dos Pirenéus.
Mas infelizmente Portugal cuida mal da sua imagem.
Não tem sido valorizada a educação nem os heróis do passado. Agora temos as consequências nada prometoras de uma geração nova a fugir para o estrangeiro em busca da continuação de mordomias a que estavam habituados em Portugal mas que, no estrangeiro, são bem capazes de fazer aquilo que são incapazes de fazer no seu próprio país.

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