Esta, é uma metáfora perfeita da condição social de muitos emigrantes que trabalham por esse mundo fora...
A história narra o quotidiano de um emigrante de leste, cujo trabalho é o de limpar o lixo, que vai caindo nos respiradouros do Metro de Nova Iorque.
A história narra o quotidiano de um emigrante de leste, cujo trabalho é o de limpar o lixo, que vai caindo nos respiradouros do Metro de Nova Iorque.
Este limpa-vias, trabalhava há
muitos anos no Metro, sempre de olhos no chão e sem saber uma palavra de inglês,
sujeitava-se no seu dia a dia, tal como uma toupeira, a trabalhar nos escuros respiradoros, a picar papéis, varrer
milhões de pontas de cigarros, raspar das plataformas as pastilhas elásticas,
limpar as latrinas e ainda espalhava desinfectantes, polvilhava as vias com um
pó branco, encolhendo-se contra a parede negra, sempre que o colega da lanterna
gritava – “lá vem o comboio!”
Sempre de olhos baixos, como
quem nada espera do Alto. A vida dele vinha toda do chão imundo e viscoso. Nem
sequer olhava para a ténue claridade que entrava pelos respiradouros.
Mas na superfície, a todo o
comprimento da fachada da Igreja de S. João Baptista, os respiradouros do Metro
formavam uma longa plataforma arrendada. Por lá são muito frequentes os
casamentos, onde o arroz chove em cima dos noivos, à saída da cerimónia, com
grande estrago de alegria e depois das cerimónias, o arroz é varrido para
dentro das grades, resvalando para dentro do subterrâneo, caindo pelo
respiradouro aos milhares, que o limpa-vias a princípio, varria com o outro
lixo.
Mas um dia, o nosso homem, que
achava estranho esse fenómeno, matutou de onde viria tanto arroz? Um arroz
limpo e polido, que brilhava como pérolas.
Desconhecia aqueles ritos, no
casamento dele não tinha havido arroz de qualidade nenhuma…
Até que um dia, juntou os
bagos num montículo e encheu com eles os bolsos do macaco. Em casa, a mulher
cruzou as mãos de assombro, perante aquele carolino de primeira.
Eram pobres e aquela fartura
de arroz enchia-lhes a barriga, a ele, à mulher e aos seus filhos. Ela
habituou-se àquela súbita dádiva e dizia-lhe - “Vê se hoje há arroz, porque acabou-se
o que tínhamos em casa”
O limpa-vias nunca perguntou
donde chovia tanto grão, não sabendo a que atribuir o fenómeno.
O arroz vinha do Céu, como a
chuva, a neve, o sol e o raio. Não é lixo para ele. É uma dádiva vinda dos
céus. É ouro para si e para a sua família faminta. E ele agradece aquela dádiva
com a humildade dos desprotegidos Tão pobre e calado, pensava que Deus lá no
alto, mandava-lhe aquele maná para encher a barriga aos filhos, sem ele ter
pedido nada.
Resignando-se a ser alvo da
misericórdia do Senhor, começou a rezar-lhe fervorosamente, à noite, o que
nunca fizera antes.
Este conto “Arroz
do céu”, foi escrito por José Rodrigues Miguéis, quando este residiu em Nova
York.
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