segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pequim e os Hutongs (Bairros antigos)


Para quem visita a cidade de Pequim, atracções como a Cidade Proibida, a Grande Muralha, o Templo do Céu, o Palácio de Verão, etc, são indispensáveis, pois a sua glória e grandiosidade reflectem parte da cultura milenar chinesa. No entanto, há um outro lugar nesta Capital que não se deve perder: são os Hutongs, ou os becos tradicionais chineses, espalhados por alguns bairros mais antigos de Pequim.
Fomos visitar um hutong que se situa no bairro de Qianmen, ao sul da Praça da Paz Celestial, no centro de Pequim.Os principais prédios num hutong eram quase todos quadrangulares formando um complexo pela construção de quatro casas ao redor de um pátio.
Os pátios variavam de tamanho e design de acordo com o estatuto social dos moradores. Se fosse designado para um alto funcionário ou para ricos comerciantes, eram especialmente construídos com vigas no telhado e pilares lindamente esculpidos e pintados, cada um tinha um jardim ou quintal. As pessoas mais comuns, viviam simplesmente nos pátios construídos de casas baixas.
No século XIII, os mongóis fundaram a Dinastia Yuan e escolheram Pequim como Capital. De origem mongol, palavra "Hutong", que designa um conjunto de becos e ruas, foi trazido assim ao quotidiano dos Hans.
A zona de Qianmen concentrava o maior número de visitantes na antiga capital chinesa, o que tornou o lugar cheio de lojas, restaurantes e estabelecimentos de entretenimento. Com a chegada constante de moradores, os becos no bairro começaram a ficar cada vez mais estreitos. Em 2003, o governo municipal aprovou o "Projecto para Restauração do Bairro de Qianmen", que foi remodelado conforme o aspecto que tinha nos anos 30 do século passado. Estreitos e longos, os Hutongs de Pequim, têm nos seus dois lados, casas de paredes e telhados de cor cinzenta, com portas de madeira, na sua maioria, pintadas de vermelho (cor da sorte, segunda a tradição chinesa).A maior parte dos Hutongs foram construídos no século XIII. Hoje, devido à remodelação constante da cidade, é difícil saber um número exacto, mas os que existem, atraem muitos turistas que, curiosos, observam o quotidiano de algumas famílias, na sua maioria, são os idosos que vão mantendo os seus passatempos, como cultivar nos seus pátios flores de diversas espécies, ouvir ópera chinesa, jogar xadrez com os vizinhos e, até a criação de pombos -, o que atrai muita atenção dos visitantes estrangeiros.
Eles alimentam os pombos, passeiam com as gaiolas dos seus pássaros, cuidam das plantas e levam os seus netos à escola. São cenas do quotidiano muito bonitas e cada vez mais raras, que mostram como viver naquela zona antiga, não esmorece terem atitudes positivas perante a vida.Ao passear nas ruas estreitas dos Hutongs, seria fácil mergulharmos na serenidade e na calma, fugindo do trânsito caótico e da modernidade. As avezinhas a cantar nas gaiolas penduradas sob os beirais dos telhados e as bicicletas que vão passando de vez em quando, tudo revela uma tradição bem preservada.
Actualmente, com o crescimento significativo de visitantes, o turismo de Hutong já se tornou uma nova atracção turística em Pequim.Muitos turistas, escolhem alugar um dos triciclos turísticos que abundam na zona, para percorrer melhor este lugar bastante típico do hutong, sob as explicações dos condutores, dado que a maioria nasceu e mora no bairro.
Uma curiosidade: é que cada hutong possui o seu próprio nome, que geralmente conta uma história interessante. A rua onde andámos chama-se na sua tradução "Rua Inclinada do Cachimbo". Um nome bastante estranho, que resulta de uma história de rua, porque antigamente nesta zona, concentravam-se muitas lojas onde se vendiam os cachimbos e os respectivos tabacos. As lojas, em geral, tinham um letreiro na porta para chamar atenção dos passantes. Na actualidade, esta rua já não se limita apenas a vender os tabacos, pois pode encontrar-se muitos artigos tipicamente chineses e… bastante caros, uma vez que as lojas foram remodeladas e os seus donos são artistas que assinam as suas obras de arte, já com nome feito no mercado, que são de artesanato, pintura e moda.Ao sair da “Rua Inclinada do Cachimbo”, aparece à nossa frente uma imponente construção - a famosa "Torre dos Tambores de Pequim", que se situa no eixo central desta antiga cidade e a norte, fica a Torre de Sinos. Estas duas torres serviam antigamente para dar as horas. Há um termo chinês que diz: sinos de manhã e tambores à noite, ou seja, de manhã replicavam os sinos e à noite batiam-se os tambores.A Torre de Tambores foi construída em 1271 e tem o nome original de Torre de Qizheng, que significa a “administração unificada”. A construção que se observa hoje, foi reconstruída em 1420, pois já foi destruída por vários incêndios. A torre regista uma altura de 46,7 metros e tem toda a estrutura de madeira, onde havia originalmente 25 tambores.Para chegar à torre, deparamos com estes degraus extremamente íngremes que parecem nunca mais ter fim, chegamos lá acima, sufocados de cansaço… Encontrámos então um largo salão onde se expõem ao longo das paredes 26 tambores. Além dos 25 que servem para as horas, um deles, é o único original que foi preservado até hoje.
Como já não existia hoje em dia a função de ter de dar as horas, as autoridades organizam uns shows, fazendo com que os visitantes possam sentir a solenidade da Torre dos tempos antigos, e são tocados ali ao vivo de meia em meia hora, por alguns funcionários, que nos deixam maravilhados pela sua potente sonoridade.Além dos tambores, também achei interessante um aparelho de medição de tempo - a clepsidra de bronze. A original já não se conservou até aos dias de hoje, e a clepsidra que nós encontrámos, é uma cópia produzida pela Agência de Conservação das Torres de Sinos e de Tambores de Pequim e pelo Instituto de Suzhou, mas mesmo assim, fica uma ideia de como os tempos antigos funcionavam...Cá fora num varadim, podemos desfrutar da vista parcial sobre o bairro que acabámos de visitar com os seus caracteristicos telhados cinzentos. Hutongs, na verdade, são passagens formadas por muitos pátios organizados em ruas estreitas de diferentes tamanhos.
Já passava há muito da hora do almoço e um certo desconforto instalou-se nos nossos estômagos. Fomos encontrando alguns restaurantes com comida tipicamente chinesa e até chegámos a entrar num deles, mas ao olharmos para as mesas percebemos que aquelas tigelas onde se via um caldo escuro e outros pratos carregados de malaguetas, não era exactamente o que pretendiámos.Descobrimos este simpático Café no largo da Torre dos Sinos.
Lá dentro,encontrámos um ambiente acolhedor e as duas jovens que nos atenderam, foram uma simpatia. O menu estava nas duas línguas e elas também falavam o suficiente para nos entendermos. As sandes estavam uma delicia e o batido de chocolate aconchegou-nos o estômago e deu-nos nova energia para continuarmos o passeio.
Apesar do crescente número de arranha-céus nesta Capital, os hutongs continuam a ser um dos símbolos mais importantes de Pequim.

1 comentário:

Shuiti disse...

Muito bacana o relato!!
Estou indo pra Pequim semana q vem e vou tentar passear pelos hutongs!