Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
-"Ai Lurdes, Lurdes, que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer".
António Lobo Antunes
Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)
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2 comentários:
Estimada Amiga Irene e Exmo. Esposo,
Lindo poema ao qual respondo com este da gripe do amor, logo por sinal a Lourdes é minha esposa rsrsrs
A gripe do amor contraí !...
se apanha com facilidade
essa forte febre a senti
bem jovem, na mocidade
Meti-me num galinheiro
e por um Pinto fui afectado
despendi algum dinheiro
para dela ficar libertado
Seu nome Maria Gestrudes
apelido Pinto Guerra
noutra capoeira viu virtudes
desprezando o Galo que eu era
Por Lisboa a capital
nessa capoeira ficou
sem redes e sem metal
e o Cambeta olvidou
Ovos por lá deve ter posto
e uma família gerado
por prazer? ou a seu gosto!...
ou em Guerra galos criado
Eu deixei de ser capão
e livremente esvoaçando
sou ave arribação
que com amor no mundo vou andando
Já não recordo com saudade
aquele fatídico primeiro amor
que em abono da verdade
me feriu causando dor
Abraço amigo e votos de óptimo fim de semana.
Minha quyerida, rachei de rir com essa sátira. Deixa eu copiar, deixa, deixa, deixa???????
:)
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