O novo Acordo Ortográfico começou a ser aplicado nos documentos do Estado em 2011, vigorando em todos os serviços, organismos e entidades na tutela do Governo português.
No meio do marasmo dos que se dizem adversários do acordo ortográfico, mas continuam a aplicá-lo no dia-a-dia porque “não há outro remédio”, a posição de Vasco Graça Moura (que sempre se opôs ao AO com fundamento) é digna de aplauso: no CCB, onde já se aplicava o AO, deu ordens para voltar atrás. Se outros tivessem a sua coerência, tudo seria bem diferente em Portugal
No entanto, existem ainda instituições que não o aplicaram, como a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, reforçando, o Centro Cultural de Belém, que voltou atrás na decisão depois do novo presidente Vasco Graça Moura ter ordenado que todos os conversores – ferramenta informática que adapta os textos ao acordo – fossem desinstalados dos computadores da instituição.
Desde então, a discussão tem estado em aberto, tendo surgindo cada vez mais vozes contra a aplicação do acordo.
Entretanto, o tema chegou às páginas do jornal angolano de capiatais públicos, depois da reunião, em Lisboa, dos ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde se pode ler que “nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas, só porque possui mais falantes ou, uma indústria editorial mais pujante”.
No editorial, o jornal escreve que a questão do Acordo Ortográfico foi um dos temas debatidos na reunião de ministros, uma vez que a Angola e Moçambique, ainda não o ratificaram.
O jornal, dirigido por José Ribeiro, escreve que, é importante que todos os países “respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras, só porque o difícil comércio das palavras assim o exige”, arrebatando assim o argumento de que o Acordo Ortográfico, servirá para aproximar as comunidades de língua portuguesa.
“Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais”, defende o editorial, acrescentando que “do ‘português tabeliónico’ aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas”.
Exemplificando, o jornal recorre ao quotidiano dos jornalistas:
- “Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português”,
- escreve o jornal, defendendo exactamente que os mais sábios ensinem os que menos sabem.
Para o “Jornal de Angola”, o português falado neste país tem características específicas, “uma beleza única e uma riqueza inestimável”, que devem ser mantidas, assim como tem o português do Alentejo ou o português da Bahia. “Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP”, atesta, concluindo que não é aceitável que através de um qualquer acordo a grafia seja esquecida. “Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras.”
A decisão de adopção do Acordo Ortográfico (AO) foi tomada em Conselho de Ministros a 25 de Janeiro de 2011, e começou oficialmente a ser adoptado a 1 de Janeiro de 2012, estando prevista a aplicação generalizada do acordo para 2014. Pergunto-me, se é possível neste momento parar a implementação do Acordo Ortográfico, sem prejudicar todas as crianças que já estudam por ele e se é possível fazer reset nas crianças e começar outra vez?
Eis o que penso sobre o assunto:
Estão a tentar fazer reset connosco, adultos... e nós temos muito mais dificuldade de adaptação do que as crianças.
Se o processo se revertesse agora, repito, agora, daqui a 3 meses, os alunos que estão a aprender português, segundo o novo acordo, nem se lembrariam do que lhes estão a ensinar agora, e nadariam como peixe dentro de água no português, que sempre conhecemos.
E já alguém parou para pensar nos custos inerentes a esta brincadeira? Eu tenho imensos volumes na minha casa de macau e em Lisboa, é quase uma mini-biblioteca. Tudo isto é agora, obsoleto. Não é antigo, reparem, isso é outra coisa...
É obsoleto, ou seja, lixo. Milhões de manuais escolares para o lixo!
Milhões de livros de leitura obrigatória no ensino básico e secundário para o lixo!
Milhões de livros editados e apoiados pelo Plano Nacional de Leitura nos últimos 5 anos, para o lixo.
Milhões de clássicos da literatura para o lixo! É isso que esta brincadeira do AO nos custa.
Não está em causa a evolução natural da língua portuguesa! Está em causa o ego demasiado grande de meia dúzia de políticos da treta, que quiseram deixar a sua marca. Bela marca, não há dúvida!
Se for obrigada profissionalmente a usar o novo AO, farei batota sim! Escrevo normalmente e depois utilizo o conversor. Infelizmente, também sou obrigada a decifrar o que se escreve nessa espécie de dialecto. Dou por mim a tentar avaliar rapidamente quantos significados ou se existe sequer algum significado, para aquele aglomerado de letras que me aparece à frente.
A alegada tentativa de facilitar o entendimento entre utilizadores da língua portuguesa nas suas mais diversas variantes, resulta afinal numa comunicação cheia de ruído para os próprios portugueses, enquanto dos outros lados do Atlântico, as comunidades lusófonas assistem indiferentes a toda esta palhaçada.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
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1 comentário:
Só posso dizer que esse acordo complicou demais minha vida e meu trabalho.
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