Um dia fui assistir a uma aula de jovens que oscilavam entre os 12 e os 14 anos. Cheguei com ligeiro atraso, por isso, sentei-me silenciosamente num lugar vazio, no fundo da sala e reparei que todos os alunos já estavam a trabalhar numa tarefa, preenchendo uma folha de caderno com ideias e pensamentos.
Reparei que uma das alunas, mais próxima de mim, estava a encher a folha de "não consigos": - "não consigo atar os meus atacadores correctamente, porque se desfazem sempre" "não consigo fazer divisões longas com mais de três números." "Não consigo fazer com que o João goste de mim."
Achei aquilo curioso e então caminhei pela sala para ver o que os outros estavam a fazer e notei que todos estavam a escrever o que não conseguiam fazer. "Não consigo fazer dez flexões": "Não consigo comer um bolo só"; “Não consigo aprender a andar de bicicleta”, etc, etc
Esta actividade despertou a minha curiosidade e decidi perguntar à professora que tipo de aula era aquela, mas nem abri a boca, porque percebi que ela também estava ocupada a escrever uma lista de "não consigos".
Como não quis interromper, ali fiquei a observar e a pensar porque razão estariam ali os alunos quase adolescentes a trabalhar com frases negativas, em vez de escrever frases positivas.
Voltei para o meu lugar e os estudantes continuavam na sua tarefa extremamente concentrados, não se ouvia nada na sala a não ser o barulho das canetas a escrever no papel…
A maioria encheu a sua página. Alguns deles, começaram outra. Quando todos terminaram, foram instruídos a dobrar as folhas ao meio e colocá-las numa caixa de sapatos, vazia, que estava sobre a secretária da professora.
Quando todos os alunos tinham colocado as folhas na caixa, a professora, acrescentou as suas, fechou a caixa, colocou-a de baixo do braço e saiu pela porta do corredor, seguida pelos alunos e eu, também a segui, fechando a fila.
Mais à frente a professora entrou na sala do porteiro da escola e saiu com uma pá. Depois, seguimos todos para o pátio da escola, onde havia num canto distante um canteiro com flores e pequenas árvores e foi ali que começaram a cavar um buraco não muito fundo, mas o suficiente para caber a caixa que a professora transportava.
Então percebi que iam enterrar os seus "não consigos"! E a caixa foi depositada no fundo e rapidamente coberta com terra. Trinta e uma crianças permaneceram ali de pé, em torno da sepultura recém cavada. A professora então proferiu um pequeno discurso:
-"Amigos, estamos hoje aqui reunidos para honrar a memória do ´não consigo´. Enquanto esteve connosco aqui na Terra, ele partilhou a vida de todos nós, de alguns mais do que de outros. O seu nome, infelizmente, foi mencionado em cada instituição pública - escolas, câmaras, assembleias legislativas e até mesmo nas reuniões dos nossos governantes.
Por isso, é muito importante termos arranjado um local para o seu descanso final e uma lápide que contém seu epitáfio. Ele vive na memória de seus irmãos e irmãs ´eu consigo´, ´eu vou´ e ´eu vou imediatamente´.
Que o ´não consigo´ possa descansar em paz e que todos os presentes possam retomar as suas vidas e ir em frente na sua ausência. Amém."
Ao escutar as orações entendi o que aquela fantástica professora queria ensinar aos seus alunos e eles, jamais esqueceriam esta lição.
A actividade era simbólica: uma metáfora da vida. O "não consigo" estava enterrado para sempre.
A seguir, a sábia professora encaminhou os seus alunos de volta à sala de aula e promoveu uma pequena festa com algumas bebidas e bolos. Fazia parte da celebração, uma grande lápide de papelão recortada onde se liam as palavras "não consigo" no topo, "descanse em paz" no centro, e a data em baixo.
A lápide de papel ficou pendurada na sala de aula durante o resto do ano. Nas raras ocasiões em que um aluno se esquecia e dizia "não consigo", a professora simplesmente apontava o cartaz do “descanse em paz”. O aluno então era lembrado que o "não consigo" estava morto e reformulava a frase.
Agora, anos depois, sempre que ouço a frase "não consigo", vejo as imagens daquele funeral e, tal como os alunos, eu também me lembro de que o "não consigo" está morto e enterrado.
FONTE:(Baseado e adaptado de um texto americano de Chick Moorman, do livro “Canja de Galinha para a alma”, Jack Canfield & Mark Victor Hansen, ed. Ediouro.)
terça-feira, 12 de abril de 2011
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