terça-feira, 21 de junho de 2011

O Ensino e a Crise

A crise está a produzir efeitos incríveis que ninguém planeou. Coisas do capitalismo: milhões de pessoas que estão a fazer escolhas independentes que produzem efeitos que ninguém previu.
É ver as notícias! Muitos profissionais que perderam os seus empregos, nos Estados Unidos, passaram ao ensino. Isso mesmo! Contabilistas vão para as escolas ou universidades ensinar, depois de passarem muitos anos com a “mão na massa”. Engenheiros, Arquitectos, Desenhadores, vão para as escolas e faculdades ensinar desenho industrial e por aí fora.
Em Portugal, todos estes profissionais, que mencionei, eram (e são), simplesmente, ignorados, a não ser que fossem (ou sejam) amigos ou familiares de alguém bem colocado, no governo, mas essas são outras “histórias”…
Quem não tiver mestrado ou doutoramento, o Ministério da Educação não o reconhece como professor, mesmo que seja um profissional fantástico, com o maior reconhecimento da empresa onde trabalhou, ter experiência e ser dos bons, apesar disso vale zero, só com um “canudo”!
Simplesmente porque não passou pelos rituais de iniciação, porque não gastou tempo e dinheiro a escrever dissertações, (aquelas que raramente alguém lê), onde há muita teoria, mas que na prática é uma desgraça porque …. o interesse dos burocratas está no formalismo e na papelada que dão lucro e desesperam a paciência de quem quer fazer alguma coisa na vida.
Não há muito tempo, na Feira de Ciências de uma escola secundária em Boston, Massachussets, um adolescente de 16 anos apresentou um trabalho da maior relevância para a saúde pública mundial: descobriu que o vírus da hepatite C e o vírus transmitido pelo mosquito dengue são “primos” próximos.
Esta descoberta foi um atalho que pode assim economizar muitos anos na descoberta da cura da dengue (sabendo que os vírus são primos próximos podem-se usar muitos conhecimentos já avançados sobre o vírus da hepatite C, - dengue) e este aluno, que foi tomado a sério, teve entrada imediata numa universidade por ter demonstrado competência, interesse e conhecimentos e não teve de passar pela burocracia de mais exames para atestar o que ele de facto já é ou mostrou ser. Se por exemplo Bill Gates (Microsoft) e Steven Jobs (Apple), dois grandes vencedores da vida, tivessem tido qualquer actividade académica, não teriam tido tempo para inventar nada, porque teriam perdido o seu tempo a correr atrás de disciplinas, para conseguir os certificados que legitimariam as suas descobertas.
Se, eventualmente, estes homens perdessem os seus empregos, poderiam ir dar aulas, pois ninguém duvida que tal seria uma boa aposta. Muitas universidades os receberiam de braços abertos e haveria uma grande disputa, entre as melhores universidades, para os conseguir contratar. Mas, será que em alguns outros países, entre eles, Portugal, isso seria possível? Porque, no nosso país, qualquer actividade académica exige papéis, muitos papéis e, principalmente um papel chamado de “diploma”, assinado por alguém que afirma que os estudos são verdadeiros.
No entanto há quem compre esse papel como “verdadeiro”, e aí temos muitos incompetentes a dar aulas em universidades, a pavonearem-se como sábios, sem nunca terem concretizado coisa alguma.
E assim vai o ensino…

Nota: Ressalvo, aqui, os muitos catedráticos e outros docentes de valor, que continuam, verdadeiramente, a interessar-se pelos nossos estudantes, mas infelizmente há muita “arraia-miúda” misturada que dá mau nome ao ensino superior e é aí que eu quero chegar.

1 comentário:

O Espírito do Tai Chi disse...

Bem "dito" amiga Irene!...

António Serra