segunda-feira, 15 de março de 2010

A Nova Língua Portuguesa

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa'- em 2009/2010, são Assistentes Operacionais. Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'. O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';
Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'
Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';
As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas do estrangeiro são 'centros de decisão nacionais'.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.
Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
A Ágata, rainha da música pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira ...» ; pois agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia para: «Tenho uma família monoparental ...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'

Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação', os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como se a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
As prostiutas passaram a ser 'senhoras de alterne'.
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos bem tramados com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.

E falta ainda esclarecer que os tradicionais "anões" estão em vias de passar a ser "cidadãos verticalmente desfavorecidos"...
Os idiotas e imbecis passam a designar-se por 'indivíduos com atitude não vinculativa' Os pretos passaram a ser 'pessoas de cor'.
O que sempre se designou como 'mongolismo', passou a designar-se 'síndroma do cromossoma 21'.
Os gordos e os magros passaram a ser pessoas com 'disfunção alimentar'.
Os aldrabões e mentirosos passam a ser 'pessoas com muita imaginação'.
Os que fazem desfalques nas empresas e são descobertos são 'pessoas com grande visão empresarial mas que estão rodeados de invejosos'...
Para autarcas e políticos, afirmar que "eu tenho impunidade judicial", foi substituído por 'estar de consciência tranquila'.
O conceito de 'corrupção organizada', foi substituído pela palavra 'sistema'.
Difícil, dramático, desastroso, congestionado, problemático, etc., passou a ser sinónimo de 'complicado'.
E assim vai o nosso país, numa nova e espantosa linguagem!

2 comentários:

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimada Amiga e Ilustre Historiadora Dra. irene.

Todos esses novos termos fazem parte dos ventos da hist]oria antigamente chamava-se imprensa, aos jornais e às revistas agora são os medias, cá para mim, ainda continuo sendo Alentejo, embora esteja fora faz muitos anos, e nessa dos nomes pomposos não entrou.
O primeiro a udar foram os Regentes Agricolas para Engenheiros Agricolas, os Nabos são os mesmo, só mudaram de designação.
Oa que andam no mar são marinheiros ou marujos e por essa ordem de ideias quem anda no ar é aviador mas deveria também chamarem-se Araujos e por ai fora rsrsrs.
Um abraço amigo cá desta cidade onde os Anjos se estão ajoelhando.

Anónimo disse...

Com estas alteracoes no Portugues ...temo ter um dia um "disfuncao karonal" Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!