sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cora Coralina e a VIDA!


A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro,
mas deixou o seu legado.
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina, tinha um modo diferente de contar histórias, apesar de ter apenas a instrução primária e ser doceira de profissão, começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos de idade, publicando-os nos jornais da cidade de Goiás, e nos jornais de outras cidades. Ela era conhecida como Aninha da Ponte da Lapa e publicou o seu primeiro livro aos 75 anos de idade.
Casou em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte para o interior de São Paulo, onde viveu durante 45 anos. Teve seis filhos, quinze netos e 19 bisnetos e morreu aos 95 anos de idade.

Ficou famosa principalmente quando as suas obras chegaram às mãos de Carlos Drummond de Andrade, quando ela tinha quase 90 anos de idade.
Levou uma vida tumultuosa, cheia de encontrões do destino que, em vez de lhe provocar desânimo, despertaram no espírito de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas (nome verdadeiro de Cora Coralina), uma fibra de guerreira e uma sabedoria simples, por vezes meio marota, feita de respeito e piedade pelo ser humano, sobretudo pelos que sofrem, mas também com um fundo de ironia mansa e de malícia sem maldade, um humor típico da gente do interior, um sarcasmo angelical (se é que há sarcasmo entre os anjos), numa mistura de humildade franciscana e de revolta diante das estúpidas repressões da sociedade e da dureza dos costumes antigos, sob os quais foi criada e educada, e que lhe deixou marcas tão profundas na alma:
- "Na casa antiga, castigos corporais e humilhantes, coerção,/ atitudes impostas, ascendência férrea, obediência cega./ Filhos foram impiedosamente sacrificados e despojados./ E para alguma rebeldia indomável, lá vinha a ameaça terrível, impressionante/ da maldição da mãe, a que poucos resistiam./ Do resto prefiro não esmiuçar".
Nos poemas de ”Vintém de Cobre” – que são meias confissões de Aninha, livro que viria depois, mas eles são uma confissão de corpo e alma inteiros, escritos num tom simples e comunicativo, num lirismo quase de toada sertaneja, ricos de experiência humana. Talvez por pudor, ou autodefesa, nunca revelam toda a dureza dos factos. Ficam nas meias-confissões. E, por malícia, são chamados de vintém de cobre quando, na realidade, constituem a mais pura e autêntica moeda de ouro.
Aninha e as suas pedras

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos Jovens
e na memória das
gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de
todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
(Outubro, 1981)

A humildade com que Cora se encara a si mesma, e como se coloca diante da vida, é uma das características nos seus versos :

Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.
Eu sou aquela mulher
que ficou velha,
esquecida,
nos teus larguinhos e nos teus becos tristes,
contando estórias,
fazendo adivinhação.
Cantando teu passado.
Cantando teu futuro.

Extraído de “Poemas da Minha Cidade”
Não sei... se a vida é curta...
Não sei... Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira e pura...
enquanto durar. "
Cora Coralina

Em todos os seus trabalhos, podemos lançar o nosso olhar sobre a dimensão que a sua escrita tem tanto de humana como social, na sua linguagem simples e despojada de preconceitos. Foi um ser atento ao seu tempo e prestando um testemunho preciso, ao mesmo tempo em que critica os costumes da época, o que ela faz de forma ponderada e justa, sem amargura ou revolta.

1 comentário:

Zé Carlos disse...

Irene querida, obrigado pela visita e pelas suas palavras.

Como disse a Cora: A vida tem duas faces: Positiva e negativa. O passado foi duro, mas deixou o seu legado.
Saber viver é a grande sabedoria


Esses legados é que nos ensinam. Desejo um maravilhoso final de semana, beijos do seu amigo ZC