sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O invejoso...

Estranho sentimento esse, a inveja! Há quem diga que a inveja é uma confissão de inferioridade, porque ninguém sente inveja de um pobre, ou de alguém feio e gordo, ou de alguém que foi preso, mas sim, de quem tem (aparentemente) uma bela vida, que viaja, que é bonito, que tem êxito na vida profissional ou pessoal, etc.
A desproporcionada felicidade e admiração que há no outro, é experimentada no invejoso como uma perda pessoal e injusta, tão avassaladora, que lhe suscita a ânsia irreversível da destruição e cancelamento do indesejável e competitivo parceiro e o impulso do invejoso é eliminar ou estragar o que pensa ser a fonte daquela alegria e o outro deixa de ser um parceiro para tornar-se um rival.

O invejoso, deixa de ter uma existência autónoma e diferenciada para, na maior parte dos casos, andar enredado nos dramas, ficções e combates fantasmagóricos do “eu” contra a criatura que entende ser o seu rival.
Deixa de constituir a possibilidade criativa de pessoa saudável, para viver capturado num ressentimento que alaga tudo de mesquinhez, tramas e sombras.
A inveja surge do sentimento da incapacidade de viver os próprios sonhos, de alcançar as metas e realizações. Por isso, o exemplo daqueles que realizaram algo, faz lembrar ao invejoso aquilo que não foi capaz de fazer. No entanto, muitas vezes a sensação de incapacidade, a matriz da inveja, deve-se à escolha inadequada de metas, como desejar algo que não está ao seu alcance.

Não sei se os psicólogos têm razão quando afirmam que o objecto primário de toda a inveja tem como origem o seio nutridor materno. Cada um traz um quinhão de falhas de amor, talvez arrastadas por traumas de infância, mas o problema é como cada um as reconhece, integra e as transfigura.
As crianças têm de aprender a ver a mãe, não apenas como uma fonte de alimento e aprender a controlar a sua voracidade porque, o amor materno não é perfeito e nem tem que ser, porque o amor de mãe é inerente à condição de mãe, que pode variar de acordo com a consciência de cada uma, de acordo com as ambições, frustrações ou cultura, ele pode ser fraco ou forte, existir ou não existir, aparecer e desaparecer, pode ser bom ou mau, ter preferência por um filho ou não, mas isso não é motivo para se ficar com o “trauma da inveja”, que é uma reivindicação estéril e infeliz.
O contrário da inveja é a gratidão e esta, está intimamente ligada à confiança,no bem que se desenvolve nos outros e no bem que se pode receber dele.

Sem comentários: