domingo, 5 de abril de 2009

Cacos de vidro


Era um dia quente! Os pais resolveram ir à praia com os seus três filhos. Enquanto as crianças tomavam banho ou faziam covas na areia com as suas pás brincando às construções, ao longe surgiu uma velhinha.
O seu cabelo grisalho voava ao vento. As suas roupas eram sujas e bastante usadas. Ela baixava-se de vez em quando e resmungava qualquer coisa enquanto ia metendo algo num saco tão velho e sujo como ela.
Os pais chamaram apressadamente as crianças quando viram que a velhota estava a poucos metros deles e disseram-lhes para ficar longe da velha.
Quando ela passou, curvando-se de novo para apanhar coisas que ao longe não conseguiram perceber o quê, ela sorriu para a família, mas todos lhe viraram a cara indignados com tamanha ousadia.
Semanas mais tarde, falando casualmente com um empregado do bar da praia, vieram a saber que afinal a velhota apanhava pedaços aguçados das conchas e cacos de vidros espalhados na areia, para as crianças não cortarem os pés.

Às vezes pedimos coisas à vida que ela não tem forma de oferecer. Outras vezes, ela dá-nos lições que não sabemos como agradecer.

1 comentário:

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Um maravilhoso conto e uma maravilhosa lição de psicologia.
É mesmo, a maioria das pessoas classificam as outras pelo visiual, vem apenas caras, algumas com a pele enrrugada pelo tempo, pelas canseiras da vida, mas não conseguem vislumbrar seus ternos corações.
Lá diz o velho ditado, Nem tudo o que luz por vezes é Oiro.
Adorei e continuo sendo seu leitor assiduo, irei só fazer uma pausa, visto ter que ir para o norte passar o ano novo e lá na aldeia, inserida na selva, não tenho posso usar o pc.
Um abraço amigo