quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lembrança do passado


Um dia destes, estive para comprar num Centro Comercial, um candeeiro a petróleo que me chamou a atenção mal entrei na loja.
Tinha a forma tradicional dos velhos candeeiros a petróleo, mas este, era de um fabrico mais moderno e mais requintado. Parecia óbvio que, para além da sua função utilitária, pretendia ser um objecto de arte e decoração.
Achei-o lindo! Estive a admirá-lo durante algum tempo numa luta interna se havia ou não de o levar para casa.
Ainda estendi a mão umas duas vezes para o agarrar, mas dominei o impulso, não para poupar algum dinheiro, mas porque pensei que seria mais um bibelot a juntar a tantos outros, que me enchem as prateleiras e móveis.
De repente veio-me à memória com toda a clareza, os anos que parecem esfumados dessa altura da minha vida, há tanto e tantos anos atrás, em que na minha infância a noite chegava sempre acompanhada pelo candeeiro a petróleo.
Havia candeeiros a petróleo grandes, normalmente usados na casa de jantar e havia os mais pequenos, usados no quarto de dormir, onde todas as noites eu pedia à minha mãe para contar ou ler uma história. Lembro-me que me impressionava muito as histórias “Contos de Anderson”.
Ouvia fascinada alguns dos “contos das mil e uma noites”, outras vezes ficava aterrada ao ouvir a passagem em que o Ali Baba e a escrava deitavam o óleo a ferver nos potes onde se escondiam os ladrões ou, quando a menina que vendia fósforos, morre enregelada numa noite de neve. Então… fixava a luzinha do candeeiro a petróleo, que me aliviava os escuros pensamentos e dos pesadelos.
Quando entrei para a escola, começou a usar-se a electricidade que se foi vulgarizando, até esses candeeiros recolherem ao sótão para fazer companhia às outras velharias.
Durante a minha vida adulta nunca mais pensei nos candeeiros a petróleo, mas agora, ao olhar para este candeeiro, veio-me à memória aquela luzinha trémula que me confortava o coração do medo que sentia da noite e das minhas fantasias de criança.
Parafraseando Fernando Pessoa: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que elas acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"

2 comentários:

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimada Amiga e Ilustre Romancista Irene,

Embora eu tivesse nascido na cidade ou havia luz electrica, estes candeiros a petróleo igualmente me fazem recordar tempos antigos, quando ia à vila do Alandroal e fica em casa de minha querida avó.
Este seu belo romance me fez transportar no tempo, revivendo esses belos momentos, eu não pedia a minha avó para me contar um conto, ela me entregava o candeiro a petroleo do quatro e lá ia para o andar superior sempre com receio de passar junto do quarto onde vi falecer o meu avô.
A fraca luz do candeiro por vezes me dava a sensação de ver algo a mover-se. e assim que me metia na cama tapava a cabeça com o lençol e ficava esperando a chegada da minha avozinha, só depois, e já com a presença dela an cama al lado consiga dormir.
Aqui na Tailandia podem ser encontrados esse tipo de candeeiro, no Chatuchat, ou seja no mercado de fim de semana.
Nunca vi por cá as pessoas usarem esse tipo de candeiro nem mesmo nas aldeias, mas eles existem por cá.
Adorei mais este seu belo romance que me levou aos anos de minha juventude em terras alentejanas.
O meu muito obrigado, um abraço amigo.
Quero igualmente agradecer-lhe o gentil comentário postado em meu blog.

Leocardo disse...

Boas recordações que tenho desses candeeiros a petróleo. Era comum faltar a electricidade lá na lezíria, e a minha avó tinha sempre um desses candeeiros sempre à mão. Sinto saudades do cheiro, sobretudo.

Cumprimentos, e bom trabalho!