domingo, 8 de maio de 2011

O último presente

Stella estava sentada na sala. Era inverno. Mas o maior frio que ela sentia vinha de dentro, da alma.
Lá fora, a chuva batia furiosa nos vidros, ela jamais sentira tanto medo da tempestade, dos ventos gelados e da chuva como agora, porque estava sózinha, porque se SENTIA sózinha.
O seu querido David havia morrido há 3 meses. Ela jamais poderia imaginar que sentiria tanto a sua falta. Olhava pensativa as chamas da lareira e recordava os momentos maravilhosos e românticos que ali passaram…
Desde que o diagnóstico do cancro terminal chegara, ela teve de se preparar para a morte dele. Mas ele também! Sempre fora um homem organizado, deixara toda a papelada em ordem.
Dinheiro não lhe faltaria para as necessidades. Ele pensara em tudo.
Mas aquela ausência dele era terrível. Ao terceiro toque da campainha da porta, fê-la despertar das recordações e levantou-se para abrir a porta, mas antes espreitou pela janela e viu um carro de entregas, estacionado em frente ao portão.
No umbral, ali estava um rapaz com uma caixa enorme.
- Boa tarde, o seu nome é Stella Araújo? -perguntou o funcionário.
Ao sinal afirmativo, ele pediu licença para entrar e colocou a caixa no meio da sala.
Antes que pudesse indagar qualquer coisa, o entregador, jovial, foi explicando:
- “A senhora desculpe. Esta encomenda era para entregar somente na véspera do Natal. Porém, hoje é o último dia de expediente, no canil. Espero que a senhora não se importe.” Entregou-lhe um envelope, abriu a encomenda e retirou o presente: um filhote de cão Labrador.
- “A carta explica tudo”,- continuou o rapaz. - “O cão foi comprado em Julho, quando a mãe dele estava prenhe. Ele tem seis semanas de idade e é um cão doméstico. A senhora espere um pouco que vou buscar a restante encomenda.”
Largou o cãozinho, que se sentar aos pés de Stella, fungando feliz e olhando para ela.
A restante encomenda, era uma caixa enorme de alimentos para cães, uma coleira e um livro Como cuidar do seu cão Labrador.
Stella continuava parada, estática. Acabara de reconhecer no envelope a letra de David.
Quando o rapaz se foi embora, ela regressou à sua poltrona. Toda ela tremia!
O cãozinho ficou ali, olhando-a com os seus olhos castanhos, à espera de um afago. A carta não era longa, mas escrita com carinho.
David escrevera-a antes de morrer e entregou-a ao proprietário do canil. Era o seu último presente de Natal.
Ele comprara o animal para lhe fazer companhia. A carta era cheia de amor e dava-lhe ainda conselhos e incentivos para que fosse forte, até ao dia em que voltariam a ficar juntos, na espiritualidade.
Ela olhou para o cãozinho e estendeu a mão para o apanhar. Segurou-o nos braços. Pensou que fosse pesado, mas tinha o peso e tamanho de uma almofada do sofá.
O animalzinho de pêlos castanhos, lambeu-lhe o queixo e aninhou-se junto ao seu pescoço. Ela chorou de saudade. Ele ficou ali, quietinho.
-“Então, criaturinha, aqui estamos, tu e eu.
O cãozinho fungou, concordando, pondo a sua língua rosada para fora e Stella sorriu.
-“Então, vamos para a cozinha fazer uma sopa? Vou dar-te ração e depois leremos um bom livro, juntos. Que tal?
O cãozinho latiu e abanou a cauda, como se tivesse entendido exactamente o sentido de cada uma das palavras. E acompanhou Stella até à cozinha...

Na sua imensa sabedoria, Deus criou os animais para auxiliar o homem nas suas tarefas, tanto quanto para lhe prover algumas necessidades.
Também para servir de amparo aos que andam sós, aos famintos de afecto.
Muitas dessas criaturas, existem com a missão de servirem o homem, são excelentes zeladores de vidas humanas.
Ao homem cabe amparar-lhes a vida e retribuir-lhes com cuidados, a atenção e a fidelidade com que eles têm para com os seus donos.
São também eles a manifestação do amor de Deus na Terra.

Fonte:
Inspiração com base no cap. Entrega posterior, de Cathy Miller, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray

Sem comentários: