Quando tinha 7 para 8 anos e já começava a soletrar as primeiras letras, gostava imenso de ler e guardar postais com desenhos, imagens com humor, pinturas, etc, que os meus pais recebiam dos amigos das suas viagens, pelo natal ou pelos aniversários...
Depois passou a ser a minha vez, em todos os meus aniversários, a família e amigos, sabendo do meu gosto, escreviam-me um postalinho com imagens de meninas, flores ou animais a desejar-me um dia feliz e muitos anos de saúde.
Acredito que os objectos, neste caso, os postais, são capazes de contar extraordinárias e reveladoras histórias. Sobre um povo e os seus gostos peculiares, sobre uma sociedade e o seu contexto, sobre uma história, que é afinal, uma identidade comum. Hoje em dia, esse excelente hábito perdeu-se com o nascimento da Era Informática. Mas mesmo assim, continuo a comprar postais e até alguns amigos também me enviam alguns dos locais onde passam as férias, felizmente que este hábito não está completamente banido, pelo menos das pessoas da minha idade.
Ao longo de todos estes anos, tenho guardado os postais que fui recebendo, que fui comprando, e, a maioria deles, estão metidos em caixas na minha casa de Portugal. Aguardam que um dia os meta em álbuns por temas, será um dos meus trabalhos prioritários, quando me reformar, penso eu...
Desde então aprendi a fantasiar através deles. Estes são postais de Setúbal dos anos 70...
Ao olhar os postais encontro referências visuais de vários momentos vividos e sonhados em locais que me são gratos, que vivi com os meus pais e outros familiares já desaparecidos. Hoje acho que foi uma boa ideia em os ter guardado e, quase inconscientemente, organizei-os por temas, ou seja, animais, paisagens, os mais antigos, de humor, flores, enfim, acabei por criar um museu visual pessoal, que mais tarde os meterei nos respectivos álbuns. Nesta época, quem recebia destes postais, guardava-os invariavelmente em álbuns mais ou menos luxuosos, conforme o gosto ou as possibilidades de cada um. Em quase todas as casas das pessoas com quem mantínhamos relações, e por onde passei a minha meninice, havia belos álbuns de postais ilustrados, que fizeram o encanto de muitas das minhas tardes em casa de amigos dos meus pais. Talvez esta minha apetência em coleccioná-los venha da vontade em ter esses álbuns. Postal da Guiné - Bissau onde os meus dois irmãos foram parar na altura da guerra colonial. Tenho imensos, e, no verso, estão escritos pedaços de ansiedade, medos disfarçados, conversas banais de acontecimentos do dia a dia deles, onde a morte pairava a cada momento. Muitos dos postais, não condizem com a realidade. São, por vezes, uma realidade recriada, como uma invenção de situações e paisagens. Merecem atenção e carinho, não só pelo que têm de curioso, como pelo seu valor documental para o futuro.
Por vezes, abro o envelope onde tenho um molhinho, aqui em Macau, e passo algum tempo a examiná-los. Não deixo de sorrir ao observar as "poses" das modelos, ou as paisagens de algumas cidades, que hoje já nem são uma sombra do que eram. Os postais são uma forma de memória, e, como todas as memórias, uns mais bonitos que outros.
Das viagens que faço trago sempre vários postais: dos museus, pintura, desenho, poesia, poesia visual, animais, arquitectura, paisagens...
Guardo também muitos deles de locais que passei em Portugal outros, comprei porque achei bonitos:, Lisboa, Sintra, Setúbal, Sesimbra, Lagos, Águeda, Porto, Gouveia, Serra da Estrela, Viseu, Guarda, Coimbra, Madrid, Sevilha, Barcelona, Londres, Paris, e depois de começar a viver em Macau, vou comprando os de várias cidades. Nestas viagens cheias de bons momentos, ao olhar para os postais, elas ficam para sempre na nossa memória afectiva. E os postais também são uma pequena parte dessa alegria. O estilo "arte nova" foi dominante em várias séries de postais de edição limitada, desde o ano de 1890 até 1906.
É interessante ter vários tipos de postais de arte, quer de pintura, de artesanato ou mesmo de vestes tradicionais de vários países, incluindo o nosso. Ou... aprender com eles, como por exemplo, de acordo com este postal inglês, as áreas destinadas a banhos obedeciam a uma espécie de apartheid: meninas para um lado, meninos para outro. (pode ler-se no letreiro nas costas da banhista: "mixed bathing not allowed")
E, porque conhecemos – como não? – o infinito poder da saudade, outorgamos também aos postais esse condão mágico de, como uma certa madalena, acordar sensações e lembranças em cada um de nós. Revelar-nos portanto.
Coleccionar postais é um acto de prazer, aprendizado e de memória, que podem ser passados aos nossos descendentes, como uma herança do passado e das nossas raizes.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
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