Em Portugal, este mês de Junho, é um mês dedicado aos Santos Populares com festas e arraiais por todo o país, nas noites de Santo António, de São João e de São Pedro.
No dia 13 de Junho, é feriado municipal em Lisboa. As festividades da cidade são marcadas pelos desfiles de marchas populares, casamentos de Santo António, (com a celebração de vários casamentos em conjunto) e pelos arraiais nos bairros da cidade.
Pelas ruas, espalha-se a alegria e o cheiro dos manjericos, as ruas da cidade são enfeitadas, não esquecendo as casas e bairros históricos, que nesta altura ficam bastante coloridas com bandeirinhas, arcos e balões e o manjerico nas janelas.
Em Lisboa, as marchas populares de cada bairro desfilam pela Av. da Liberdade, enchendo a avenida, de centenas de figurantes, música, colorido e muito público.Concorrem diversos bairros, que desfilam a cantar e a dançar, em trajes regionais. Cada marcha, arranja um padrinho, para dar carisma ao seu bairro e na maior parte das vezes eram pessoas do bairro que toda a gente conhecia. Depois começaram a escolher figuras conhecidas no país, como foi o caso de Amália Rodrigues.
Por volta dos anos 1990, a realidade dos padrinhos alterou-se, quando as marchas passaram a ter direito a intensa cobertura televisiva.
A partir daí, as marchas procuram ter padrinhos sobejamente conhecidos pelas pessoas, pelo público, porque isso arrasta mais apoiantes, mesmo que não sejam do bairro…
Também neste dia de Santo António, os foliões seguem a tradição e comem sardinhas assadas, caldo verde, pimento assado e broa, bem regado com o nosso excelente vinho, tinto ou branco, seguindo assim uma tradição bem portuguesa, que talvez seja um escape deste povo, que tem sido espremido e massacrado por uma troika sem escrúpulos, mas que não lhe tira a alegria e o bairrismo nestas festas de santos populares.
Mandei a tristeza embora
Ela não foi, sina minha
Alegro-me como posso
Com pão, vinho e sardinha.
Santo António é o santo padroeiro da cidade de Lisboa e conhecido como o santo casamenteiro, sendo o santo a quem os jovens devem pedir ajuda para arranjar namorada(o) e/ou casar.
Não resisto em aqui deixar um poema de Augusto Gil, dedicado ao Santo António
Saíra Santo António do convento,
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.
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Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando…
E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo…
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O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.
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Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.
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De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia… o coração no peito.
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Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
- Ó Frei António, o que foi aquilo?…
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O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
- Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada…
Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.
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- Tu não estás com a cabeça boa…
Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,
Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais,
… Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!
Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: - Jesus,
São horas…
... E abalaram pró convento.